Ouvir e contar

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"Quando a ocasião o permitir, depois de o ruído passar e deixarmos de nos preocupar tanto com o assunto moeda, partilhemos o gosto que criámos por essa língua-ninho, pátria até." Kalaf Epalanga, poeta, escritor, cantor, angolano de Benguela e português de Lisboa, escreveu esta magnífica frase ontem, aqui, no Diário de Notícias.

É a resposta dele a um texto que lhe pedimos sobre Portugal - "uma pequena declaração de amor nacional", as palavras são dele outra vez - que hoje vai a votos para escolher o governo e amanhã celebra o 5 de Outubro. Segunda-feira é Dia da República e é bom homenageá-la como se festejam os aniversários dos amigos mais queridos, sem esquecer a data, sem encontrar desculpas, boas ou más, institucionais ou sei lá, para nos ausentarmos e falharmos a chamada obrigatória.

A sorte de um jornal é poder tornar essa festa ainda maior e não a limitar a um só dia. Nas últimas semanas, aliás meses, na verdade um pouco mais de um ano, é isso que o Diário de Notícias tem procurado fazer passo a passo, página a página, mudança a mudança. Temos reforçado nestas páginas o talento dos repórteres e colunistas que aqui trabalham, uns novos (Pedro Bidarra, João Taborda da Gama, Miguel Ángel Belloso, Wolfgang Münchau, Yanis Varoufakis, Hugo Gonçalves), e outros bem bons que já cá andavam. Convidámos também, e continuaremos a fazê-lo, muitos outros com diferentes ideias e gostos e partidos e sensibilidades e origens e pontos de vista, como Vicente Jorge Silva, Inês Serra Lopes, Mário Cláudio, António Mega Ferreira, etc., etc., de cá ou de lá de fora, que enriquecem com genuína pluralidade - o contrário do que fazem hoje as publicações de fação - a leitura diária do país e do mundo. Somos seletivos, mas não somos vesgos. Somos equilibrados, mas não somos neutrais ou insípidos. Queremos fazer jornalismo consequente.

Em breve, já na próxima semana, junta-se a nós aos domingos, todos os domingos como hoje, a voz de António Barreto, um regresso aos jornais há muito desejado e agora concretizado porque chegou o momento certo, o contexto adequado. Bem-vindo António Barreto. O maior prazer para um editor de jornais, além de os conseguir vender, é poder rodear-se de bons prosadores, pensadores, fotógrafos e ilustradores e deixar essas curvas e palavras bem impressas em tinta de jornal ou em partículas digitais, tanto faz - o meio não é a mensagem.

Talvez com uma ponta de sorte ir um pouco mais além e produzir algum efeito em quem as lê - emoção, irritação, preocupação, alegria, reflexão ou até nostalgia (saudade?) com sabor a maçã, como no texto de ontem assinado (sentido) por Kalaf. Talvez haja nisto alguma angústia de reconhecimento, mas não é caso para tanto, é só um jornal e os jornais, com todos os seus erros e imprecisões, são como a democracia, têm de ser cultivados diariamente, sem descuidos, aparados, regados e trabalhados com paciência e tenacidade, com sentido de oportunidade, sem faltar à chamada. Hoje, portanto, é dia de ir votar, caro leitor, não arranje desculpas para faltar. O jornal lê-o depois.

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