Se uma mulher tivesse a oportunidade de voltar atrás 200 anos e viver numa época em que não podia votar, seguir uma carreira e ser independente, quais seriam as hipóteses de o querer fazer? A resposta é menos óbvia do que parece e na quarta temporada da série Outlander há várias hipóteses ensaiadas..A história épica baseada nos livros de Diana Gabaldon explora os efeitos de "cair pela brecha do tempo" e aborda essa aventura impossível de várias perspetivas, centrando-se na relação amorosa que desperta entre Claire, uma mulher do século XX, e Jamie, um homem do século XVIII. Mas o puzzle é muito mais do que uma novela amorosa, permitindo uma análise dos acontecimentos históricos que levaram à independência dos Estados Unidos da coroa britânica e tecendo um comentário sobre a condição feminina através dos séculos. É isso que reflete a evolução de Brianna Randall, a personagem interpretada por Sophie Skelton que ganhou uma importância central na quarta temporada.."O que eu queria garantir com a Brianna é que mostramos que esta história é sobre mulheres modernas", diz ao DN a atriz inglesa, que dá corpo à filha de Claire (Caitriona Balfe) e Jamie (Sam Heughan) em Outlander. Na quarta temporada, Brianna decide voltar atrás no tempo para avisar os pais de uma tragédia que lhes irá acontecer no século XVIII: um obituário revela que ambos morrerão num incêndio. A decisão significa que a jovem educada na Boston dos anos sessenta parte sozinha para a Escócia de 1769, de onde sairá num navio em busca da colónia da Carolina do Norte para reencontrar a mãe e conhecer o pai pela primeira vez..Parte desta aventura na série do canal STARZ desvia-se da história dos livros, uma escolha que Sophie Skelton considera "interessante" e "inteligente" por parte dos argumentistas. Ao chegar à Escócia, Brianna fica inadvertidamente ao cuidado de Loaghaire - a mulher que tentara que Claire fosse queimada como bruxa. "Uma das coisas que temos na série é que as pessoas nunca são apenas uma coisa. Toda a gente tem bondade e maldade dentro delas", explica Sophie. "Loaghaire obviamente tornou a vida de Claire e Jamie muito difícil, mas aqui vemos um lado dela completamente diferente, que nunca tínhamos visto antes, um lado amoroso, maternal, generoso." A audiência é levada a ver a mesma pessoa a uma luz diferente, através dos olhos de Brianna..Sophie refere também uma dualidade curiosa: embora quisesse mostrar que a jovem que regressa ao século XVIII tem a postura e os tiques de alguém dos anos sessenta, a indumentária trabalhou contra ela. "Quando Brianna veste um corpete, só tem uma forma de andar", diz, explicando que a roupa limita os movimentos e comprime a postura. "É muito diferente e dá uma sensação bastante restritiva." Brianna regressou ciente dos termos e das atitudes específicas daquele tempo e procurou misturar-se desde o início, não chamar a atenção. A roupa, "muito desconfortável", é um elemento importante tanto para a personagem como para a atriz. "Sempre ouvi dizer que quando se usa corpete não se consegue comer, mas eu sinto o oposto, aperta tanto que quero comer mais.".Sophie quer também garantir que os espectadores não esquecem "que ela é uma mulher moderna" na maior parte do tempo. "O que estamos a fazer é dar ao espectador um ponto de vista sobre aqueles tempos através da Brianna.".A reflexão sobre a condição da mulher não fica, no entanto, limitada à época dos corpetes no século XVIII. Na verdade, ela é bastante visível através da relação entre Brianna e Roger, que já no século XX se revela "antiquado" quando lhe diz que não quer tê-la na sua cama se não casarem e implicando que não casaria com uma mulher que não fosse virgem. Embora Roger vá atrás dela para o passado e o reencontro seja emocionante, a relação volta a implodir quando ele demonstra achar-se no direito de controlar o que ela sabe (porque não a avisou quando encontrou o tal obituário de Claire e Jamie)..A personagem interpretada por Sophie sofre uma transformação radical nesta temporada e é também vítima de um crime hediondo no final do episódio 8, que terá consequências inesperadas no episódio deste domingo. "A Brianna é um meio de dar à audiência moderna um olhar para os tempos idos, quando as coisas eram muito diferentes." A jovem mulher é violada pelo capitão Stephen Bonnet e os seus gritos são perfeitamente ignorados pelos homens que continuam a jogar e a beber no salão ao lado. Há o choque de perceber que o que lhe acontece era aceite naquela altura, e esse efeito tão "desconfortável" e impossível de ignorar "reflete o quão avançámos até agora", explica Sophie..Um dos objetivos é que esta narrativa estimule a discussão e mostre que é necessário "levantar-se, defender e ajudar os outros". Há aqui uma mensagem, advoga; de resto, este novo percurso de Brianna dá a sensação de ser mais íntimo para a audiência do que para a própria protagonista, Claire..A quarta temporada oferece uma expansão do universo de Outlander após a esperada reunificação de Claire e Jaime no século XVIII. "O que é fantástico é que oferece uma mistura de várias coisas e há algo para toda a gente", garante Sophie. Há a viagem no tempo, há as histórias de amor, há os momentos de ação. "A temporada 4 pega nisso tudo e eleva-o para outro nível." Permite seguir relações completamente diferentes em épocas distintas, com os altos e baixos da relação entre Brianna e Roger a serem mais introspetivo . "É uma temporada muito interessante, mais épica do que vimos antes."