Poucos conhecem os seus nomes e a sua cara mas são para algumas gerações de jovens estrelas da nossa cultura pop. Se os chamarmos de Aleixo talvez se abram as luzes: Pedro Santo e João Moreira são os criadores e as vozes do universo Bruno Aleixo, personagens da zona de Coimbra que se tornaram pêndulo de um humor alternativo português e que no Brasil ganhou um culto visível..Em 2019 chegou aos cinemas com resultados comerciais francamente animadores O Filme do Bruno Aleixo, produzido por Luís Urbano, o homem que produziu Oliveira, Miguel Gomes e Ivo M. Ferreira. Um filme O Som e a Fúria que teve números de bilheteira e punha nomes como Manuel Mozos, Fernando Alvim e Rogério Samora a serem dobrados pelas vozes de Aleixo e companhia. Era um OVNI bizarro, fonte lúcida e honesta da comicidade dos Aleixo nas rábulas televisivas e nos sketches de rádio. Acima de tudo, era uma extensão com pernas e cabeça daquilo que a dupla fazia na internet - foi o Youtube que tornou este cão com cara de Ewok (a criatura dos filmes Star Wars da fase de George Lucas) uma personalidade. Era também um objeto de cinema que pedia uma certa aculturação ao humor desta provocação que parece infantil: satirizar um tipo de português refilão, chico-esperto e com mania de ter sempre a razão..Nesta sequela, O Natal do Bruno Aleixo, já toda ela em animação, encontramos Bruno Aleixo num hospital num coma psicológico após um leve acidente com o Homem do Bussaco. Estamos nas vésperas de Natal e Bruno não há meio de despertar para grande inquietação dos seus amigos. E é nesse coma que revive memórias não muito agradáveis de consoadas passadas, em especial na sua infância quando visitava no Brasil a sua família. Dir-se-ia que é um filme já pensado numa lógica de reconhecimento das marcas de humor deste anti-herói. Um cocktail de piadas e referências quase apenas para fãs e cujos tipos de animação têm diversos estilos.."Não se trata de discriminação mas ainda sentimos que somos vistos como intrusos e um pouco cineastas série B. Aliás, esse sentimento até se agravou agora porque depois do primeiro percebemos que não entrámos no meio do cinema português nem vamos entrar", começa por dizer Moreira, precisamente a voz inconfundível do Aleixo. "Mas isso não é uma coisa que nos tire o sono, estamos resignados. É claro que não estamos na fauna ou no clube do cinema português... A transição da net e da rádio é difícil", complementa Santo. Na verdade, é mesmo uma dupla sempre em complemento e não é por acaso que dizem que raramente têm opiniões opostas quanto ao rumo da personagem..Se nesta altura O Natal do Bruno Aleixo tem boas possibilidades comerciais, essa é uma questão que os Aleixo não querem colocar a mão no fogo. Lembram que na plataforma Filmin O Filme do Bruno Aleixo é o título português mais visto de sempre e que a mancha de fama da personagem também cresceu e encontrou novos públicos. Além do mais, estão contentes com o filme em si: "Este devido à própria animação torna-se mais dinâmico. É um filme mais apelativo e o arquétipo é reconhecível!". O truque narrativo é a evocação ao Natal passado, presente e futuro de Charles Dickens, embora continuem a ter uma graça muito particular as pausas de ritmo e o lado tosco da execução técnica. Na Mostra de São Paulo a estreia mundial teve casa cheia e uma aclamação de nicho bem considerável.."Todos se vão identificar pelo menos com uma das situações daquelas consoadas do Bruno! E dois daqueles natais aconteceram-nos! Pomos sempre coisas biográficas mas o natal, com tanta gente junta tanto tempo, é um Big Brother em potência", dizem ambos em conjunto, avisando que há uma mensagem que talvez não seja tão sincronizada com o habitual estilo de redenção. Afinal, O Natal do Bruno Aleixo é também para todos os que não têm pachorra para o espírito da temporada..Para além deste boneco, Moreira e Santo dizem estar disponíveis para desenvolver outras ideias de comédia, mas também sabem que estão um pouco presos à sua criação. "Estamos realmente presos, o mercado pede-nos apenas o Aleixo", queixam-se, mas também não se sentem incomodados por isso. Quando lhes pedimos que nos nomeiem outras famílias e afinidades de humor em Portugal não referem Ricardo Araújos Pereiras ou Brunos Nogueiras, estão mais sintonizados com um humor vindo das redes sociais, neste caso o fenómeno Insónias em Carvão..Com Bruno Aleixo talvez tenham andado perto do mainstream, mas Santo acredita que a oportunidade já faz parte do passado: "É o mesmo que acontece com uma banda que está quinze anos a tocar o seu som underground e indie e depois ficar mainstream. Por muito que tenha algo que repente resulte, será que depois todos vão querer conhecer aquilo que está para trás? Essa banda não vai mudar o seu som, nós também não...Quando começámos sabíamos perfeitamente que isto não era a coisa mais imediata do mundo!".Por agora, Moreira lança um apelo: "Este filme é para ser visto numa sala de cinema porque o riso é contagiante. Vão ver com os amigos! Porém, quem for talvez depois queira revê-lo em casa com os amigos a beber uns copos...". E fica uma informação para os fãs: neste filme vemos Bruno Aleixo menino a interagir com a prima brasileira, Isabel. Sem querer ser spoiler, apenas se pode dizer que não foi fácil essa interação. "Quem sabe se não foi o trauma com Isabel que pôs Bruno Aleixo tão rezingão!? Terá ajudado, enfim...também a avó. Ele terá mantido contacto com elas toda a vida, para além daquele natal", garantem os Aleixo....dnot@dn.pt