Os últimos cinco anos foram os mais quentes alguma vez registados

Os cinco anos de 2015 a 2019 devem ser o período mais quente alguma vez registado informa a ONU, na véspera de uma cimeira climática que conta com a presença de cerca de 60 líderes mundiais.
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A temperatura média no período 2015-2019 deve ser 1,1°C superior à do período 1850-1900, de acordo com um relatório publicado pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), agência das Nações Unidas.

Os dados mais recentes confirmam a tendência dos quatro anos anteriores, que já eram os mais quentes alguma vez registados, ou seja, desde 1850. Sabíamos também que julho de 2019, marcado por várias ondas de calor, particularmente na Europa, tinha batido o recorde absoluto de temperatura.

Mas este grau de diferença é uma média que esconde as disparidades regionais. Os polos estão a aquecer mais rapidamente e as zonas costeiras estão mais rapidamente ameaçadas.

"Os efeitos das alterações climáticas não estão a ser sentidos da mesma forma", comentou Stephen Belcher, cientista chefe do Departamento de Meteorologia britânico. "Alguns países estão a sofrer alguns efeitos, como ondas de calor mais intensas ou inundações mais graves, mais cedo do que outros".

O relatório também constata que as ondas de calor foram o perigo climático mais mortal no período 2015-19, afetando todos os continentes e estabelecendo novos recordes nacionais de temperatura.

O verão de 2019, que incluiu o mês mais quente de todos os tempos (julho), viu incêndios florestais sem precedentes no Ártico. Em junho, estes foram responsáveis pela emissão de 50 megatoneladas de dióxido de carbono.

O relatório analisa a passividade dos Estados em reduzir as suas emissões de gases com efeito de estufa. E mesmo assim os cientistas tendem a ser "conservadores", alertou um dos autores do relatório, Leena Srivastava. Os decisores políticos "devem agir com muito mais urgência", disse ela ao apresentar o relatório no domingo.

O relatório da OMM confirma que a subida do nível do mar está a acelerar. Na última década, a taxa aumentou para 4 milímetros por ano, face a três por ano anteriormente, devido ao derretimento acelerado das calotas de gelo nos Polos Norte e Sul, confirmado por vários estudos e observações de satélites.

As emissões de carvão, petróleo e gás continuaram a aumentar em 2018 e continuarão a aumentar até, pelo menos, 2030, segundo estimativas dos cientistas.

Para 2019, as emissões serão "pelo menos tão altas" quanto em 2018, de acordo com cientistas que têm trabalhado neste relatório para a ONU em preparação para a cimeira de segunda-feira.

Emissões de carbono são como um cartão de crédito sem controlo

A concentração de CO2 na atmosfera deverá atingir um novo pico no final de 2019, segundo dados preliminares, 410 partes por milhão (ppm). Em 2018, o dióxido de carbono global era de 407,8 ppm, 2,2 ppm acima de 2017.

A última vez que a atmosfera da Terra continha 400 partes por milhão de CO 2 foi há cerca de 3-5 milhões de anos, diz o relatório. Naquele período, as temperaturas médias globais da superfície terrestre eram de 2 a 3 graus Celsius mais quentes, as camadas de gelo em ambos os polos haviam derretido e os mares estavam 10 a 20 metros mais altos.

Esta é a pior notícia do relatório para o professor Dave Reay da Universidade de Edimburgo. "Parece um extrato de cartão de crédito após cinco anos de gastos sem preocupações", disse à AFP. Acrescenta: "O nosso limite geral de crédito de carbono foi atingido. Se as emissões não começarem a diminuir, o preço será infernal."

No estado atual dos compromissos dos países para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa, o mundo será 2,9 a 3,4°C mais quente até 2100.

O relatório demonstra que os esforços dos países para limitar as emissões de carbono devem ser multiplicados por cinco para conter o aquecimento global a mais 1,5°C, como previsto no Acordo de Paris de 2015, um objetivo que muitos especialistas parecem agora considerar ilusório.

O aquecimento global poderá ser ainda maior, de acordo com modelos climáticos mais recentes, mas que ainda não foram validados pela ONU, como o de uma equipa francesa que prevê mais 7°C no pior cenário possível.

"O fosso nunca foi tão grande" entre o que o mundo quer alcançar e a realidade dos planos climáticos dos países, adverte o relatório. É este fosso que o secretário-geral da ONU, António Guterres, pretende começar a preencher, ao acolher cerca de 60 líderes na segunda-feira.

Espera-se que muitos líderes prometam alcançar a neutralidade do carbono até 2050, disse o dirigente português.

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