Um casal detido no sábado, acusado de tentar vender segredos sobre a tecnologia dos submarinos nucleares norte-americanos, foi ontem ouvido num tribunal federal na Virgínia Ocidental. O juiz marcou as próximas sessões para sexta-feira e na próxima semana, enquanto Jonathan e Diana Toebbe permanecem detidos por risco de evasão, segundo a fundamentação do Departamento de Justiça porque arriscam prisão perpétua caso sejam condenados por transmissão de dados restritos e de conspiração para transmitir dados restritos..Residentes em Annapolis, Maryland, Jonathan, de 42 anos, engenheiro nuclear a trabalhar para a Marinha, e Diana, professora de inglês e história num colégio privado, deixam duas crianças desamparadas e os seus conhecidos estarrecidos pela vida dupla. Quase como num episódio da premiada série televisiva The Americans, na qual o casal russo de espiões tem como vizinho o agente do FBI que os persegue desconhecendo a sua identidade, na casa ao lado dos Toebbes vive um antigo diretor do Departamento de Estado. "Viajei pelo mundo inteiro com documentos ultrassecretos... ele provavelmente gostaria de os ter!", comentou Jerry LaFleur ao Washington Post..DestaquedestaqueO país não identificado entregou o pacote ao FBI e mais tarde colaborou ao enviar um sinal não especificado ao engenheiro a partir das instalações de Washington..Segundo o depoimento do agente do FBI apresentado junto da acusação, foi Jonathan Toebbe quem teve a iniciativa de passar a informação sensível. Em abril de 2020 um pacote com documentos da Marinha dos EUA, uma carta de apresentação na qual pedia desculpas pela "tradução medíocre" e um cartão de memória com instruções específicas sobre como responderem através de uma plataforma de comunicação encriptada foi enviado para um país não identificado..Em dezembro, a encomenda foi entregue a um funcionário do FBI naquele país. O país não identificado colaborou mais tarde na operação do FBI ao enviar um sinal (também não especificado) nas suas instalações em Washington, a pedido do engenheiro nuclear..França digere ondas de choque do AUKUS.Esta descrição leva a crer que o país em questão seja aliado ou parceiro dos Estados Unidos. A especulação de que o país em questão fosse a França - que está no centro de uma tempestade diplomática com EUA e Austrália devido à perda do contrato de submarinos - foi rejeitada por fontes francesas, segundo o New York Times..Foi a partir do sinal dado pelo outro país, em concertação com o FBI, que Alice, como se apresentava Jonathan, deixou de desconfiar e concordou em fazer entregas de documentos em locais escolhidos pela agência federal. Para o fazer, receberia em troca cem mil dólares em criptomoedas Monero, um sistema usado por criminosos por não deixar rasto..A quantia em causa deixa os comentadores perplexos, até porque a investigação não encontrou nos registos financeiros do casal problemas, e os rendimentos de ambos não eram de desprezar, pelo que a hipótese mais provável aponta para uma vingança do engenheiro que pertenceu aos quadros da Marinha durante cinco anos, onde trabalhou no Programa de Propulsão Nuclear Naval; e já como civil, a partir de 2019, manteve-se nas mesmas funções e com acesso a informação classificada sobre os reatores nucleares que equipam quase 100 porta-aviões e submarinos..Por outro lado, a mulher Diana, uma feminista que tinha como hobby tricotar, dizia aos alunos que considerava a hipótese de se mudar para a Austrália. Quando Jonathan começou a deixar informações sobre os submarinos nucleares nos locais acordados com o falso agente estrangeiro embrulhou os cartões de memória em objetos tão díspares como uma sandes de manteiga de amendoim, caixas de pastilhas elásticas ou um rolo de adesivo, enquanto a mulher ficava de olho, pelo que é considerada cúmplice..Num caso semelhante, um cientista do governo norte-americano foi condenado a uma pena de 13 anos de prisão efetiva..cesar.avo@dn.pt