Os sortudos do Rivoli
O festival Porto/Post/Doc apostou e bem em dois filmes que nunca vão ser vistos em salas de cinema. Dois filmes que tinham de ser vistos em sala de cinema. The Beguiled, de Sofia Coppola, filme incómodo nesta altura em que as aparências dos assédios são sensíveis e Voyage of Time, de Terrence Malick. Sim, Malick e Coppola apenas para os sortudos que anteontem e ontem foram ao Rivoli. Os programadores do festival tiveram "olho" e fizeram aos portugueses serviço público. Não se trata de demonizar as distribuidoras que decidem não levar certos filmes para as salas. Sabe-se que cada vez mais é difícil convencer os americanos a investir num país com um parque de salas tão pequeno e com bilhetes dos mais baratos na Europa, mas também corta-nos o coração quando são despejados nos cinemas, todas as semanas, em números avassaladores, filmes sem méritos. Cinema feito por tarefeiros que o público, muito naturalmente, acaba por ignorar.
Para o Porto/Post/Doc fazer o pleno com inéditos que só vão ser vistos no mercado do home cinema, só faltava exibir o muito celebrado A Ghost Story, de David Lowery (onde existe um elenco com Casey Affleck e Rooney Mara) e o bem simpático Battle of the Sexes, de Valerie Faris e Jonathan Dayton, com uma prodigiosa Emma Stone. Vai assim o nosso mercado, mercado esse também capaz de ser o primeiro em todo o mundo a apostar no maldito (mas tão irresistível) I Love You, Daddy, de Louis C.K.,já em exibição a partir de quinta.
E, atenção, sou dos que considero Voyage of Time um bom argumento para os haters de Malick continuarem o crescente achincalhar em torno do seu cinema. Mas, caramba, é Terrence Malick! Qualquer dia, para vermos um P. T. Anderson, temos de rezar que os seus filmes façam "números suficientes" na América... Ao que isto chegou!
Jornalista de cinema