Está pronto para viver na miséria? Perante a inflação galopante, os preços de energia descontrolados e governos que não defendem os interesses da maioria - mas os de minorias cleptocráticas -, o que acha que vai suceder? Os 4,2% de inflação de Fevereiro passaram para 5,3% em Março. Tudo sem nenhuma política de reposição de rendimentos. Se o BCE aumentar os juros com vem anunciando? Mais desemprego..Em breve, o custo de vida será insuportável ou mesmo incomportável para muitos e, como sempre, a nova crise deixará os ricos mais ricos e os pobres mais pobres. Ainda mais. E mais. De resto, basta atentar também no indevidamente chamado mercado energético - sem concorrência e a transpirar cartelização, de mercado tem pouco. Nele, os gigantes - oligopólios como a EDP -, não obstante as actuais circunstâncias, prosseguem a especulação, orientam-se apenas pela lógica do lucro mesmo que abusivo..Portanto, a não ser que o caro leitor seja um oligarca ocidental, é você que vai pagar. E muito..Agora, a propaganda necessária para convencer a generalidade das populações que baixarem dramaticamente o seu poder de compra é uma acção humanitária e de solidariedade (escondendo os tais benefícios dos ultra-ricos) será imensa. Afinal, se até há pouco tempo era preciso mesmerizar as pessoas para que acreditassem que o seu sacrifício salvaria o planeta (e muitas resistiram), agora há que condicioná-las a crer que viver na dita miséria é o caminho para a paz. Só um brutal investimento no controlo da mente colectiva o conseguirá. A que preço? A que preço em dinheiro - porque o custo ético de semelhante operação é incalculável. Afinal, diminuir os direitos e liberdades da maioria convencendo-a de que há um vírus que vai dizimar a humanidade é bem mais simples do que lhes tirar o pão em nome da compaixão com o castigado povo ucraniano. Há limites para o medo e a empatia. Até para eles..Repare-se, a título de exemplo (estudo de Eugénio Rosa) - mesmo deduzindo o desconto fiscal prometido por António Costa, o Estado irá conseguir mais 1,6 milhões em impostos sobre a gasolina e gasóleo, e as empresas mais 1,6 milhões em receitas. Alegar que a responsabilidade deste saque é da guerra é obsceno e é mais um tijolo na manipulação fúnebre a que estão sujeitos os cidadãos..Portanto, da mesma forma que, durante a covid, era estritamente necessário controlar preços e taxar duro quem lucra com a desgraça alheia, agora é prioritário regular preços e estancar dividendos sociopatas, proteger salários... Bom, e já nem se fala de resgatar sectores estratégicos (ainda que aí esteja a prova provada de que entregar o pulmão do povo aos privados não traz bom resultado)..Ou seja, se os poderes públicos, reguladores, eleitos (e alguns não eleitos), continuarem a abdicar de estancar a roda livre e estiverem a assistir ao empobrecimento geral de camarote, enquanto dizem aos cordeiros que é tudo em nome do bem comum, a tragédia será colossal. Teremos milhões de super pobres, ainda mais pobres, e dos novos pobres que surgirão, com tamanha polarização social, supressão de liberdades e garantias (começando pela de expressão), um outro tipo de civilização surgirá. Talvez indigna desse nome. Está pronto para viver na miséria? Psicóloga clínica. Escreve de acordo com a antiga ortografia