Os números mágicos de Sir Paul no dia em que faz 75 anos
Bastaria dizer isto para saudar o protagonista: o homem que mais vezes ocupou o primeiro lugar da tabela de canções mais vendidas nos Estados Unidos - ele que é inglesinho, nascido no Walton Hospital de Liverpool, a 18 de junho de 1942, faz hoje 75 anos -, com nada menos de 29 presenças repartidas pelos Beatles, pelos Wings, pela carreira a solo e até por um dueto com Stevie Wonder (Ebony and Ivory), continua ativo e a disparar em múltiplas direções.
Ao mesmo tempo que é alvo de homenagens (caso do álbum The Art Of McCartney, lançado em 2014), McCartney vai alargando a discografia a solo (último sinal: New, de 2013), continua a subir aos palcos, exercita a sua veia clássica (o desenvolvimento mais recente e Ocean"s Kingdom, de 2011) e recria-se fora da sua "zona de conforto" (o heterónimo The Fireman, virado à música eletrónica, já vai três capítulos, sendo Electric Arguments, de 2008, o mais próximo).
Há quase uma dúzia de anos, Paul McCartney aparecia pessoalmente envolvido na venda de 100 milhões de singles. É dele, e só dele, a autoria da canção mais vezes gravada, ultrapassando as três mil abordagens - bate Happy Birthday ou Jingle Bells -, um hino chamado Yesterday. Que arrasta consigo o desfazer de um mito e uma curiosidade: apesar de ser creditada a Lennon e McCartney, foi efetivamente escrita pelo último, tal como acontece com Let It Be, Yellow Submarine ou Eleanor Rigby. McCartney é o autor solitário de mais de 200 canções do espólio final dos Beatles (que ronda as 400). Quanto ao insólito, relata a história verídica de que McCartney utilizou, como muleta de trabalho e enquanto não deu com o achado "yesterday", a expressão "scrambled eggs". Que é como quem diz "ovos mexidos".
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Para se ter uma ideia da força do legado Beatles, também há que atentar nisto: o grupo de John, George, Ringo e Paul esteve discograficamente ativo entre 1962 e 1970. Daí em diante, só houve repescagens, rearrumações e raridades para juntar ao fantástico património dos Fab Four. O que significa que Macca contabilizou quase tanto tempo ativo nos Wings (primeiro disco em 1971, último em 1979) como na banda que o imortalizou. Ainda assim, com 47 anos (!) de carreira depois da rutura, Paul continua - e continuará, já não há margem para ilusões ou alterações - a ser sempre referido como o ex-Beatle. Sobretudo desde que as outras forças criativas da banda, John (mais) e George (menos), deixaram o número dos vivos e só ficou Ringo para fazer companhia a McCartney.
Comportado e culpado
Algo que não se discute relativamente a McCartney é a sua fortuna. Material, bem entendido: de acordo com o site Business Insider UK, Paul lidera a lista dos ricaços musicais das Ilhas Britânicas, deixando para trás Lord Andrew Lloyd-Webber, os U2 (em conjunto), Sir Elton John, Sir Mick Jagger, os herdeiros de George Harrison, Keith Richards, Ringo Starr e Michael Flatley, dançarino e coreógrafo de espetáculos como Riverdance e The Lord Of The Dance. A estimativa do Sunday Times é de que a astronómica quantia que permite a McCartney uma distância confortável para os "perseguidores" ascenda a 760 milhões de libras. A que, para que não haja empecilhos no matrimónio, se junta a fortuna pessoal da sua terceira mulher, Nancy Shevell (com quem casou em Outubro de 2011), calculada em 150 milhões.
Sir Paul já casou por três vezes, depois de ter amuado muitos/as conterrâneos/as, quando rompeu um primeiro noivado com Jane Asher, a namorada dos anos de ascensão. Discreto conquistador, Macca caiu aos pés de Linda Eastman, uma nova-iorquina divorciada e mãe de uma criança, Heather, que o músico rapidamente adotou. Paul e Linda tiveram três filhos, Mary Stella (uma conhecida estilista) e James. Foi por influência da mulher que Paul se tornou vegetariano e um defensor dos direitos dos animais. Depois de Linda morrer (1998), Paul voltou a casar (2002), com Heather Mills, e ganhou mais uma filha, Beatrice. O divórcio litigioso (2008) permitiu a entrada em cena de Nancy, outra nativa de Nova Iorque, 18 anos mais nova do que o marido.
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Amante de antiguidades, até nos instrumentos musicais, Paul, um dos mais famosos canhotos da pop, ainda gosta de tocar na sua guitarra acústica Epiphone, que comprou em 1964, e onde compôs Yesterday. Nas sessões caseiras, utiliza o contrabaixo de Bill Black, o músico que acompanhou Elvis Presley. Tido como o "bem comportadinho" dos Beatles, foi preso pelo menos duas vezes por posse de substâncias proibidas, a última das quais lhe valeu um par de noites numa cadeia japonesa, em 1980.
Para a sua história entra também um episódio pouco conhecido: quando os Beatles se separaram, ficou célebre a frase "a culpa foi da Yoko". Pois sim, mas quem apresentou a japonesa a John Lennon? Isso mesmo: James Paul McCartney, o verdadeiro "culpado", mesmo que de forma involuntária.