Os novos rostos de um imaginário reinventado
Uma mistura de aposta no escuro e em atores da moda. O novo Star Wars tem um elenco que além dos atores da primeira trilogia (Harrison Ford, Carrie Fisher e companhia) integra nomes que entusiasmam. J.J. Abrams quis atores que pudessem ter uma carga mística que recuperasse alguma da pureza da primeira trilogia e transportasse uma ideia de sangue jovem. O contraste de os colocar em contracena com os rostos do passado é um dos trunfos já ganhos deste conceito de Abrams.
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Dos novos, o nome mais consagrado talvez seja o de Adam Driver, que interpreta Kylo Ren, adepto do lado negro da força. Driver é neste momento um dos meninos queridos do novo cinema americano, embora tenha tido o seu grande papel numa obra italiana de Saverio Costanzo, Corações Inquietos, um dos filmes maiores estreados em Portugal este ano. O seu rosto carregado e forte foi "descoberto" por Noah Baumbach em Frances Ha. A partir daí é solicitado por tudo e todos, ao ponto de ser um dos protagonistas de Silêncio, o filme de 2016 de Scorsese. É também um ator capaz de chegar ao "mainstream" como aconteceu na comédia Sete Dias Sem Fim (2014), de Shawn Levy, onde ele e Jane Fonda eram o que de mais interessante o filme oferecia.
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Se é verdade que Oscar Isaac é também um das estrelas em crescimento em Hollywood, depois deste papel de piloto do lado certo da força o seu estatuto vai mudar. No ano passado foi um dos contenders na temporada dos prémios pela sua arrepiante interpretação em Um Ano Muito Violento, de J.C. Chandor, e passou a estar na linha da frente dos talentos da sua geração. A Propósito de Llewyn Davis (2013), dos irmãos Coen, deu-lhe a visibilidade que lhe faltava. Curiosamente, esteve em Portugal há uns meses atrás a contracenar com Christian Bale em The Promise, de Terry George. É um ator capaz de materializar um certo sentido de ameaça, talvez por isso tenha sido escolhido por Bryan Singer em X-Men: Apocalypse, um dos mais esperados blockbusters de 2016. De herói a vilão vai um passo.
Ainda nos quase consagrados, menção para Domhnall Gleeson, conhecido de Frank (2014), de Lenny Abrahamson, e Dá Tempo ao Tempo (2013), de Simon Curtis, ele que neste ano protagonizou um duelo psicológico intenso com Oscar Isaac no belíssimo Ex Machina, de Alex Garland. Gleeson merece toda esta atenção: o jovem ator irlandês impõe sempre uma gravidade vital às suas personagens. Nos próximos tempos não vamos livrar-nos dele - Brooklyn, de Lenny Abrahamson, e The Revenant - O Renascido, de Alejandro Iñarritu, estão a chegar.
Os estreantes
Mas todos os olhos estão postos em Daisy Ridley, uma jovem atriz de 23 anos que terá feito uma audição que impressionou Abrams. O realizador não hesitou em dar-lhe o papel de Rey, uma resistente dotada com a Força. Dela apenas se sabe que fez algum trabalho em séries de tele-visão, com destaque para Mr. Selfridges e numa ou outra curta--metragem. Do pouco que já se viu do filme, é fácil perceber que tem uma beleza de cinema. Isso já ninguém lhe tira...
John Boyega, o ator inglês que interpreta Finn, aquele que talvez seja o novo Luke Skywalker, é outro dos tiros no escuro. Lembramo-nos dele em ET in da Bairro, de Joe Cornish, que em 2011 passou despercebido em Portugal mesmo depois do relativo sucesso na Grã-Bretanha. Aí Boyega mostrava algum timing de humor e apenas isso. Depois fez séries sem muita visibilidade e um ou outro filme que nunca saiu dos circuitos restritos britânicos. Logo a seguir às filmagens de Star Wars - A Força Desperta foi chamado para um indie de James Ponsoldt, The Circle, no qual é um dos protagonistas ao lado de Tom Hanks. A partir de quinta-feira transformar-se-á em modelo de herói para milhões. Aliás, a vida e a carreira desta gente nunca mais será a mesma. Que o digam Mark Hamill e Carrie Fisher em 1977...