A Federação Portuguesa do Táxi quer que o mercado da Uber e Cabify seja para taxistas e defende preços mínimos tabelados. Mas o seu presidente, Carlos Ramos, admite que o setor tem muitos problemas e não tem conseguido autorregular-se: "Há muitos motoristas de táxi que não deviam estar a trabalhar.".A Federação Portuguesa de Táxis aliou-se à Antral para organizar a manifestação de hoje. Como viu as afirmações atribuídas a Florêncio Almeida, presidente da Antral, de que "vai haver porrada"?.Não sou advogado do Florêncio. Ele não terá dito isso com a intenção com que foi publicado, mas não deveria ter dito..Mas existem episódios de violência entre taxistas e motoristas da Uber. .Como Mário Soares dizia: há o direito à indignação. Também sei de motoristas da Uber que andam a ameaçar com pistola. E o secretário de Estado [dos transportes] disse numa entrevista à Visão que os motoristas de táxi apalpam o terreno junto dos clientes para depois os vigarizarem. Ele não pode dizer isso. Eu também posso dizer que ouvi por aí dizer que o secretário de Estado está vendido à Goldman Sachs. Porque a Goldman Sachs é um dos principais financiadores da Uber. Ouvi dizer que tem emprego garantido na Goldman Sachs..Essa é uma insinuação grave, sem provas. Coisa muito diferente é dizer que há taxistas que vigarizam: é algo mais que provado.Mas ele generalizou. Disse-lhe isso na cara e ele disse que a comunicação social tinha descontextualizado. Quem é o incendiário, o agressor? Eu ou o secretário de Estado?.O que estão à espera de conseguir com a manifestação?.Que o governo acabe com os ilegais. Estão a trabalhar ilegalmente, isso não pode acontecer. Não há razão nenhuma para haver dois tipos de transportes - um tabelado e outro livre. A lei do governo para legalizar a Uber é inconstitucional. Porque o governo não pode legislar sobre isto sem passar pela Assembleia da República e são as autarquias que têm o poder para fixar contingentes [estabelecer que número de veículos de transporte particular de passageiros há no respetivo território]. Em Lisboa, por exemplo, a câmara diz que há táxis a mais [3540]. Se a lei for aprovada em Conselho de Ministros há um partido que vai chamar a lei a discussão porque a considera inconstitucional..Refere-se ao PCP..Sim. E há coisa de 10 dias o PS, o PCP e o BE, com abstenção do PSD e CDS, aprovaram uma lei que vai ao encontro das nossas reivindicações e que desautoriza o ministro e o secretário de Estado. É uma lei parecida com o que se fez em Espanha. Primeiro, o governo espanhol disse que todos os carros que trabalhassem com a plataforma da Uber pagavam uma coima entre 4000 e 15 mil euros, depositando o valor da coima ao serem apanhados e indo depois para tribunal para discutir. E depois, desde março, fizeram o que nós propomos: em cada 30 táxis um descaracteriza-se e passa a trabalhar com a Uber. Porque é que o governo nunca perguntou às plataformas se aceitam essa solução? Se o PR promulgar a lei que a geringonça [PS, BE e PCP/Verdes] aprovou, as coimas entram em vigor cá..E como ficou a fixação de preços em Espanha?.Para que não haja dumping, é preciso que o preço mínimo seja o valor de custo..O custo é avaliado como?.O Estado é que tem de o impor. E também é preciso acautelar que não se constituam em cartel, ou seja, que os operadores combinem os preços. A lei que o governo fez não acautela isso. E sabe que eles, com a tarifa dinâmica [varia de acordo com a oferta e a procura], aumentam o preço quando o seu telefone tem pouca bateria? Como é que sabem isso? A Comissão Nacional de Proteção de Dados está preocupada. Porque estas plataformas, a Uber e a Cabify, estão a armazenar milhares de dados da população. E ninguém se está a preocupar com isso - porque é cool, é chic..A vossa proposta significa que o mercado da Uber vai para os taxistas e que quem neste momento está a trabalhar com a Uber não poderá continuar..Mas eles não podem trabalhar, não têm alvará. Os condutores da Uber têm de ser obrigados às mesmas regras que os taxistas. Há uma diretiva europeia que o impõe. Exige-se avaliação física e mental e os motoristas de táxi para poderem trabalhar têm de pagar uma formação que custa 400 e tal euros. São avaliados de cinco em cinco anos e criou-se um cadastro para cada um, em que as reclamações são consideradas. Concordamos com isso tudo. E há outras questões importantes: se houver um sinistro, a quem é que se pedem responsabilidades? O cliente contratou o serviço à Uber. Esse é um aspeto para o qual o regulador, o Instituto da Mobilidade e dos Transportes, chama a atenção..Ninguém diria que os taxistas são sujeitos a formação e avaliação..Concordamos que há muita gente que não devia estar a trabalhar. Que o comportamento de alguns motoristas deveria levar à retirada de Certificado de Motorista de Táxi. Conheço alguns casos de motoristas a quem foi retirado o certificado. Cobrar dinheiro a mais, ser mal educado. Mas os maiores ladrões do aeroporto de Lisboa andam a trabalhar na Uber. Só que andam de gravata..Está a dizer que taxistas apanhados a vigarizar os clientes do aeroporto passaram para a Uber? .Sim, e posso provar. Porque foram corridos da minha cooperativa, da Autocoope, e estão a trabalhar na Uber. Agora até já apanham pessoas na rua e recebem em dinheiro..Se recebem em dinheiro não estão a trabalhar para a Uber. Em relação a más condutas: a Uber identifica o motorista e a matrícula do veículo no ato da chamada e o cliente classifica-o a seguir. Como é que identifico um taxista mal educado ou que me tenta vigarizar?.Está lá no táxi uma coisa pequenina com a identificação, nisso tem razão. Mas os burocratas do IMT como estão à secretária não percebem que isso não funciona, e não atendem às nossas sugestões..Do mesmo modo, as regras do serviço, afixadas nas janelas, são impossíveis de ler. .Também é verdade. E não diz quanto custa a bandeirada, que era o que devia estar em local bem visível, mais quanto o preço da bagagem e o serviço de espera. Oiça, não tenho dúvida de que o setor precisa de mexer. Por exemplo, o governo deveria ter proibido que entrassem táxis com 13 e 14 anos ao serviço. Apresentámos uma proposta no sentido de que não pudessem andar ao serviço carros com mais de 10 anos. O cliente não pode entrar num táxi e sair de lá sujo. E devia haver pagamento automático em todos, e fatura automática. Temos de melhorar, o serviço não pode continuar assim. Até parece que dá jeito, para manter a má imagem dos taxistas, para parecermos uns javardolas..Mas é preciso o governo impor essas regras, os taxistas não conseguem autorregular-se?.É preciso obrigar a cumprir normas. As associações não são ordens profissionais, não têm esse poder. É verdade que não há virgens nisto. Mas sabe qual é o problema? Estamos todos os dias a ser questionados porque toda a gente nos identifica. O problema da Uber é que estão escondidos, ninguém sabe quem são..Certo é que têm procura. São um sucesso..Têm procura, sim. Mas qual sucesso? Têm prejuízo todos os anos. E como é que uma empresa a nível europeu está a perder milhões? É que eles não estão a perder, estão a investir. Querem dominar as economias, arrasar as economias.