A saída com estrondo do chefe de Estado-Maior do Exército (CEME), general Carlos Jerónimo, tem suscitado um coro de críticas contra o ministro da Defesa, as quais importa analisar, sob pena de misturarmos o essencial com o acessório..Abstraindo-nos da especulação sobre as verdadeiras razões da saída do CEME, as quais no limite só ele próprio poderá conhecer e tentar esclarecer - o que não aconteceu até ao momento -, isolando os factos disponíveis, verificamos que toda esta polémica radica em dois equívocos básicos que é fundamental perceber..O primeiro, prende-se com a própria interpretação das declarações proferidas pelo subdiretor do Colégio Militar ao Observador; as vozes mais críticas têm defendido que estas declarações não constituem um fator de discriminação, na medida em que se trata de uma reação dos alunos e que a direção do Colégio procura apenas minorar quaisquer danos que possam resultar para os alunos excluídos pelos seus pares. A gravidade das declarações não está na reação dos alunos, mas sim na contemporização e inoperância assumida por parte de um elemento da direção de um estabelecimento de ensino perante práticas de discriminação dos seus alunos, que, como relembrou recentemente o tenente general Garcia Leandro, não são militares, cadetes ou soldados, são apenas estudantes..Coloquem-se as mesmas declarações na voz de um subdiretor de uma escola pública ou privada e compreender-se-á o alcance negativo que as mesmas teriam e as vozes que se levantariam, de todos os quadrantes da sociedade, de censura para com a complacência face a uma prática de clara de discriminação e bullying. Para este efeito, o facto de se tratar de um estabelecimento militar de ensino é indiferente, pois a sua matriz militar não o coloca fora dos valores fundamentais da sociedade portuguesa..O segundo equívoco diz respeito às supostas declarações públicas do Ministro da Defesa, as quais terão configurado uma alegada falha de relacionamento institucional com o CEME..Questionado, pelo Diário de Notícias, sobre o teor das declarações publicadas na reportagem do jornal Observador, o Gabinete do MDN afirma que "considera absolutamente inaceitável qualquer situação de discriminação", conforme determinam a Constituição e a Lei, e informa que solicitou ao Comando do Exército "o devido esclarecimento sobre o teor de tais declarações, bem como as medidas que pretende adotar"..Serão estas as declarações que configuram uma falha de relacionamento institucional do Ministro da Defesa para com o então CEME? Mas será que perante a situação em causa o membro do Governo da República com a tutela da Defesa Nacional não poderá pedir esclarecimentos ao chefe máximo do ramo e informação sobre que medidas asseguram que um organismo que esteja debaixo da sua tutela cumpre com os princípios constitucionais numa matéria de direitos fundamentais?.Não estamos a tratar aqui de uma matéria em que o responsável político propõe uma interferência numa "linha de comando militar", mas sim de caráter absolutamente administrativo sobre a governação e conduta num estabelecimento militar de ensino com a responsabilidade pela formação de centenas de crianças e jovens..Estes dois equívocos precisavam de ser expostos com a devida clareza, para que, de futuro, o MDN e os chefes militares possam combater o problema essencial..Deputado do PS e membro da Comissão de Defesa Nacional