"Os cuidados de saúde 'smart' serão uma solução realmente inteligente"

Jacob Choi é orador convidado da 3ª edição do HINTT - Health Intelligent Talks & Trends.
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Jacob Choi tem um passado de grande experiência no ramo da Engenharia Industrial e da Informação no setor da Saúde, mas é com os olhos postos no futuro que este especialista vê no Samsung Medical Center a imagem de um novo hospital do futuro, assente num fluxo de dados contínuo entre os cidadãos e a classe médica, levando a prestação de cuidados de saúde a um patamar sem precedentes.

De que forma é que os avanços tecnológicos vieram revolucionar a área da saúde?
A indústria da saúde está um pouco atrasada em relação a outras indústrias na adoção de novas tecnologias para a inovação empresarial. No entanto, os avanços na tecnologia são muito úteis para liderar qualquer avanço nos serviços de saúde. Por exemplo, com a autenticação por meio da tecnologia Blockchain, os pacientes e as suas famílias podem fazer reclamações dos seguros sem ter de visitar hospitais. E também podem efetuar pagamentos nos seus dispositivos móveis, usando o Samsung Pay, Allipay, etc. Do ponto de vista da segurança do paciente, os smartwatches e os dispositivos wearables podem verificar os sinais vitais da pessoa certa, assim como verificar se é administrado o medicamento certo. Penso que muitos avanços na tecnologia promovem a mudança de comportamentos por parte dos profissionais de saúde. Essas mudanças melhoram a eficiência e a qualidade de atendimento, especialmente a segurança do paciente nos hospitais.

Na sua opinião, as pessoas estão preparadas para todos estes avanços? O que é que ainda é preciso mudar?
Os profissionais de saúde que eu conheci estão bastantes dispostos a compreender as novas tecnologias emergentes e a mudar as suas áreas de trabalho no sentido da adoção de tratamentos mais eficazes. Eles estão sempre prontos a melhorar alguma coisa pelos seus pacientes. No entanto, os processos clínicos são tão complexos que as mudanças necessitam de alguns procedimentos, tais como consultoria de negócio, processos inovadores, etc. Todos os profissionais de saúde dos hospitais são bem sucedidos na prática dos padrões tradicionais. Mesmo que reconheçam a eficácia dos novos métodos, eles mostram-se sempre relutantes. E, em regra geral, os trabalhos nos hospitais são confusos entre muitos dos profissionais de saúde. Portanto, não é fácil fazer algo novo e verdadeiramente inovador na área doscuidados médicos, mesmo que traga muitos benefícios. Eu considero que a mudança cultural é, acima de tudo, uma necessidade antes de implementar algo novo. A idade dos pacientes também poderá ser um constrangimento. Os idosos preferem o cara a cara do que os progressos tecnológicos. Também são necessários esforços para mitigar essas barreiras.

Quando falamos em avanços tecnológicos na área da saúde, é recorrente falar nos benefícios que este avanço trará para os doentes. E no que diz respeito aos profissionais de saúde ?
Existem muitas vantagens para os pacientes. Por exemplo, se pudermos enviar uma imagem PACS para o hospital antes da consulta de referência médica, o paciente poderá reduzir o seu tempo de espera no hospital para tratar ou guardar as imagens antes do exame. E se os pacientes internados estiverem a usar dispositivos wearables, a enfermeira não terá que os acordar para medir os sinais vitais, enquanto estes dormem durante a noite. Além disso, se os sinais vitais do paciente forem armazenados e analisados no servidor do hospital em tempo real, em caso de out-of-threshold, e se os alertas forem dados atempadamente ao pessoal médico, a vida do paciente pode ser salva. São necessários vários meses para tratar a depressão, para selecionar os medicamentos certos para os pacientes. Se os testes genéticos permitirem tomar os seus próprios genes na medicação apropriada para a depressão, não precisaremos gastar muito tempo. Os profissionais de saúde sabem disso muito bem. No entanto, estes mesmos profissionais são muito cuidadosos a aplicá-los na prática clínica, uma vez que qualquer erro que cometam pode ter graves consequências. No campo dos cuidados de saúde, os ensaios clínicos devem demonstrar claramente os efeitos antes de poderem ser aplicados à prática clínica. Teoricamente, é fundamental que estas novas práticas não demorem demasiado tempo a contribuir beneficamente para os pacientes. Portanto, a fim de aplicar o novo método desenvolvido, há que apostar de forma gradual nas mudanças culturais e sociais.

Num dos artigos que redigiu, intitulado "Uses of the smartphone for Doctors: An empirical study from Samgung Medical Center", referiu uma aplicação para smartphones - a Dr. Smart -, através da qual os médicos conseguiam ter acesso aos dados dos seus pacientes, a Dr. Smart. Na sua opinião, de que forma é que aplicações como Dr. Smart poderão afetar a qualidade do atendimento e a segurança do paciente?
A app Dr. Smart continua a evoluir. Em 2016, o nome foi alterado para DARWIN M (Mobile) dada a ligação com o famoso sistema usado pela Samsung Medical Center (SMC), que tem o nome de DARWIN. No ano passado, a SMC atualizou o DARWIN M para a versão cloud e planeia no futuro disponibilizá--lo a baixo custo para muitos hospitais na Coreia. O verdadeiro desafio das soluções móveis é sempre o quão fácil vai ser o login para os utilizadores. No caso da SMC, para que possam iniciar facilmente a sessão, os médicos podem utilizar as suas impressões digitais. No caso de uma sala de emergência, um código QR é anexado à cama do paciente para que as informações do mesmo possam ser acedidas diretamente no smartphone. As informações mais importantes dadas através do smartphone são os resultados dos exames do laboratório. Há dois picos de acesso todos os dias - antes dos turnos da manhã e à noite. Avaliar de forma precisa a condição do paciente, tornou-se mais proveitoso que nunca. Acredito que tanto a verificação constante do estado do paciente, como a consulta por parte dos médicos de outros departamentos, através do telemóvel, contribuem para a segurança do paciente. Os médicos também dizem que as smartphone apps, como o DARWIN M, oferecem novas formas de cuidar dos pacientes e têm impactos positivos reais na melhoria da qualidade dos serviços de saúde. Penso que é necessário mais investigação académica sobre o real efeito na segurança dos pacientes.

Considera que o futuro da saúde passa por uma saúde mais smart?
A primeira geração de IT na Samsung Medical Center (SMC), desde a sua inauguração em 1994, tem-se concentrado na digitalização dos registos clínicos, das prescrições médicas, exames e resultados de radiologia e dos tempos de espera, com recurso aos telemóveis nestes últimos 10 anos. Como resultado, penso que foi um sucesso nessa altura, uma vez que a SMC estava posicionada ao mais alto nível em vários campos, como descrito na introdução. A SMC tem adoptado outras inovações desde 2004, sem descurar a digitalização da proxima década. Por outras palavras, desde o momento em que os pacientes marcam as consultas até à admissão, realização da cirurgia e alta, a SMC continuou a apostar na inovação de processos e serviços no contacto entre o paciente e o hospital. Acredito que esses esforços melhoraram a experiência do paciente, e ao mesmo tempo forneceram uma visão de 360 graus sobre o tratamento. Diz-se que tem um efeito positivo e que se espera que venha a exigir pesquisa académica no futuro. O SMC implantou uma nova versão do Hospital Information System (HIS) em 2016 e chamou-o de DARWIN. DARWIN significa Data Analytics and Research Windows for Intergrated kNowledge. A DARWIN procura hospitais inteligentes que apostem na promoção da segurança do paciente, ao melhorar a eficiência do trabalho clínico e a qualidade do atendimento, com recurso a tecnologias atualmente disponíveis, como a cloud, 5G, blockchain e IoT. Além disso, as tecnologias emergentes serão combinadas com os conhecimentos clínicos no domínio dos cuidados de saúde, o que resultará na redução dos custos e no aumento do seu valor. Embora a indústria da saúde seja mais lenta a adotar tecnologias emergentes do que outras indústrias, eu penso que os cuidados de saúde inteligentes serão uma aposta estratégica, devido ao peso crescente das despesas médicas da população idosa e ao aumento da necessidade de bem-estar.


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