Os conservadores italianos contra os rebeldes catalães

 É amanhã o Inter de Milão-Barcelona, jogo grande das meias-finais, duelo entre clubes com diferentes concepções políticas, culturais e desportivas. De um lado, um exemplo do conservadorismo italiano e das amarras tácticas, do outro um símbolo da rebeldia independentista catalã e do futebol bonito. Pelo meio, há o encontro entre os treinadores, José Mourinho e Josep Guardiola, dois 'herdeiros' de Bobby Robson e Louis van Gaal, com nove pontos de ligação...
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De um lado, os conservadores italianos, com o mestre da táctica, José Mourinho. Do outro, os rebeldes catalães, com o génio da técnica, Lionel Messi. É o Inter de Milão--Barcelona, duelo entre duas concepões políticas, culturais e desportivas. Joga-se amanhã (19.45, RTP1 e Sport TV1) - e é também a 1.ª mão das meias-finais da Liga dos Campeões.

Em Milão (amanhã) e Barcelona (dia 28) dá-se um confronto explosivo, com muitos interesses cruzados, tendo em vista o apuramento para a final da Champions. O Barcelona defende o título conquistado em 2009, enquanto o Inter procura reencontrar a glória dos anos 60 (campeão europeu em 1964 e 1965)

Os dois treinadores do Inter, José Mourinho, e Barcelona, Josep Guardiola, têm mais em comum do que se imaginaria (ver textos nestas páginas). Mas representam dois clubes e duas filosofias bem diferentes, quase como se os italianos fossem de direita e os catalães fossem de esquerda.

O Inter é o exemplo do conservadorismo italiano - seja por colocar a táctica à frente da beleza do futebol ou por ter sido instrumentalizado durante o regime fascista de Benito Mussolini (teve mesmo de mudar o nome para Ambrosiana). "O Inter representa a tradição italiana. Dá importância à táctica e pensa sempre que o mais importante é cumprir os objectivos, mesmo a jogar feio", resume João Nuno Coelho, sociólogo e entusiasta do futebol.

O treinador Manuel José faz uma descrição semelhante: "O Inter é uma equipa à Mourinho, que joga para o resultado. É algo que os italianos já fazem desde o tempo do seu antigo treinador Helenio Herrera, o criador do sistema superdefensivo catenaccio" [e o homem que levou os milaneses aos títulos europeus de 1964 e 1965].

O Barcelona é o oposto do Inter. É um símbolo dos rebeldes independentistas da Catalunha e representa a visão romântica do futebol: bola bem tratada, de pé para pé. "O Barça é muito importante em termos sociais e políticos. É um representante da Catalunha e o seu lema é ter sucesso, a fazer bem. A forma bonita como joga é uma tradição", explica João Nuno Coelho. "O Barça joga assim desde o tempo do treinador Johann Cruijff, fá-lo com o mesmo rigor táctico e a mesma vontade de vencer de outros, mas procura jogar bem", completa Manuel José.

Inter e Barça (que esta época já se encontraram na fase de grupos,ver caixa) também são clubes de épocas diferentes. Os nerazurri viveram os melhores anos na década de 60 (sob o comando de Herrera), enquanto os blaugrana só ganharam protagonismo europeu no último quarto do século XX.

Mas a dicotomia entre os clubes não fica por aqui e vai mesmo até ao seus modelos de gestão. "O Barcelona aposta na cantera [formação de jogadores] e não usa publicidade, a não ser da Unicef. É um clube dos sócios. Enquanto isso, o Inter é uma multinacional de compra e venda de jogadores. Rege-se pelos princípios de uma economia de mercado e é propriedade da mesma família há décadas", explica o sociólogo.

Como resolver tanta diferença? Só mesmo dentro do relvado. Aí se verá se ganha o génio da técnica (Messi) ou o da táctica (Mourinho).

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