Os calções do presidente
Acordo banhado em suor, são sete da manhã e vai ser um dia difícil. Desisto do sono e vou regar as plantas aproveitando para me regar a mim. Na parede do pátio há osgas que mais parecem dragões-de-komodo, os tomateiros e os piripíris estão secos como folhas de chá. Nenhum ruído na vizinhança, nenhum movimento, é um verão nuclear. O sol assassino, branco e inclemente, é o centro da explosão.
Desço os estores e abrigo-me no sofá. Na televisão o incêndio de Monchique, a Amareleja, gente que se abana e diz que não aguenta, os cientistas confirmam - está calor.
Só o Presidente Marcelo oferece algum alívio, emoldurado por pinheiros-bravos, o rosto expressivo, não sei quê dos partidos e da oposição, a imaculada pose de estado em calções de natação.