No verão, os ananases voltam ao jardim botânico do Palácio Nacional de Queluz. Custa crer, quando se está no local - a uns 100 metros do edifício principal, apenas com um muro a separar do IC19. A balaustrada ainda não está totalmente limpa nem no seu sítio. Faltam azulejos nos alegretes, há muros por limpar, o lago central está no estaleiro e não se vislumbram plantas, apenas ervas daninhas. Mas as obras já começaram..É impossível dizer o dia exato em que os trabalhos começaram. Em 2012 quando a Parques de Sintra deu o aval para o arranque da investigação histórica que sustenta as obras? Quando as plantas da construção foram encontradas na Torre do Tombo dando luz sobre o aspeto do jardim que foi usado pela Escola Equestre Portuguesa até há pouco mais de um ano? Quando foram reunidas as pedras que andavam perdidas pelo jardim e que foram montadas como se de um puzzle se tratasse? Ou em dezembro quando a equipa de restauro entrou em campo e começou a limpar, uma a uma, as uniões de metal do varandim?.[amazon:2016/02/jardimbotanicoqueluz_20160211164804].No verão de 2015, quando as fachadas do Palácio tomavam o seu azul original, a equipa de conservação e restauro já tinha começado trabalhos preparatórios neste jardim botânico de 24 canteiros, um para cada categoria da classificação de Lineu. Era assim que os infantes aprendiam. O Palácio, uma antiga quinta, começou a sofrer obras em 1747 por ordem do rei D. Pedro. As estufas foram instaladas ao lado, duas de cada lado, protegidas pelo friso de balaústres, onde cresciam ananases..Fruto raro e exótico à época, chegaram a ser símbolo da família real, como demonstra um conjunto escultórico da família que está no palácio. Eram "uma iguaria" para quem comia e um desafio para quem cuidava do jardim, "Era motivador para os jardineiros, não era qualquer um que estava habilitado a cultivar ananás", reflete o arquiteto paisagista Nuno Oliveira. Quando tudo estiver pronto, eles voltam. "Vamos ter ananases em várias fases de crescimento". Aliás, eles já estão na posse da Parques de Sintra, à espera do momento em que podem ser (re)plantados..Documentos da Torre do Tombo.A recuperação do jardim botânico parte da documentação da construção do Palácio e das zonas anexas foi encontrada na Torre do Tombo, encontrada pela historiadora Denise Pereira, que apoia o arquiteto paisagista e o engenheiro na pesquisa histórica..É o que permite dizer, com certeza, que tudo será montado nos locais onde estava e os canteiros ficam como estavam. "Encontrámos um index de plantas", afirma Nuno Oliveira. Já no caso das estufas, o revestimento será em vidro, como na época, mas "respeitando as exigências de segurança de hoje", diz o Gonçalo Pais Simões. E nem tudo é construído. "Sabemos que existia uma casa chinesa [aponta para uma das extremidades do jardim], a partir de uma reconstrução de 1865. "Foi uma opção estratégica não reconstruir. Não tínhamos dados que apoiassem a nossa decisão". Fica o espaço, à espera da Sala Chinesa, e o repto, aos historiadores, para que a encontrem..Cheias cíclicas.Há também um lago no centro, o lago original que, agora, pode ser visto montado numa antiga zona de hortas, contígua ao jardim botânico e foi um quebra-cabeças, literalmente, montá-lo. "As pedras estavam espalhadas pelo jardim", explica o engenheiro Gonçalo Pais Simões. O mesmo para as fundações das estufas. É preciso recuar a 1983 para perceber porquê..As cheias desse ano destruíram o local, tal como já tinha acontecido em 1976. "Esta é uma zona de confluência de águas", explica o engenheiro sobre o terreno sobre o qual foi construído o jardim botânico. "São cíclicas", acrescenta Manuel Baptista, da administração da Parques de Sintra. O caso está a ser objeto de debate com as autarquias de Sintra, Oeiras e Amadora, revela, durante a visita ao local. É ele quem revela o custo total da obra do botânico: meio milhão de euros. Uma fração dos 3 milhões que estão a ser investidos no 2012 e nos próximos três anos, com vista a atrair mais pessoas..Em 2015, o Palácio, um dos 10 equipamentos geridos pela Parques de Sintra, registou 136 369 de entradas. "Achamos que é baixo", admite, sem rodeios, o administrador..Além da fachada e do pavilhão Robillon, estão a trabalhar na recuperação dos jardins de aparato, dos pavimentos do jardim e do bosquete e a sua cascata. "Estão com um pedido de parecer à Direção Geral do Património Cultural", diz Nuno Oliveira. E ainda pensam recuperar a capela e o seu órgão histórico, e o pavilhão de D. Maria, isto é, aquela parte do palácio que está cedida à presidência da República. Era usada para receber convidados estrangeiros (foi o caso da princesa Diana quando esteve em Portugal), mas não tem sido usado nos anos mais recentes. Um caso para debater com o novo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que até à tomada de posse, a 9 de março, faz do palácio o seu escritório.