Os alemães também têm humor

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Em menos de cem palavras, Ryan Heath, famoso jornalista australiano que escreve o Brussels Playbook da Politico, criou hoje um facto político entre nós - de que até o Chefe do Estado se fez eco! A secção Conselho intitula-se "Portugal, o novo cartaz das reformas", e vale recordar que o termo inglês é poster child - como a menina que punha um cravo vermelho no cano da G3 para simbolizar os três D da Revolução. Começa por lembrar que há doze meses, com as sanções à porta, tudo era tão diferente do que o ministro das Finanças alemão dissera na véspera, ao chamar o seu homólogo português "o Ronaldo do Ecofin", isto debaixo da famosa fotografia do aperto de mão ridente ao português de cachené, no dia a seguir à vitória sobre a França.

Perguntado sobre o acontecimento e o que penso sobre o novo título do ministro português, diria que é um excelente exemplo de humor alemão, o qual é ainda menos conhecido do que o francês mas nem por isso inexistente. Sem querer ser pedante, recordo que a palavra "humour" não existia antes da Revolução, tendo sido importada pelos aristocratas refugiados em Inglaterra, como lembrou Patrice Leconte no seu notável filme Ridicule de 2003. Aliás, o termo só foi aceite pela Academia Francesa em 1932, embora "humoristique" tivesse sido avalisado em 1878, segundo investigação do Economist referente ao filme. Lembrarei um artigo do mesmo Politico de 10 de fevereiro, de Cynthia Kroet, no qual Schäuble compara o seu compatriota Martin Schulz, candidato a chanceler pelo SPD, ao presidente americano, Donald Trump, porque quer "fazer a Europa grande outra vez".

Pondo o comentário em contexto, porque o humor não se esgota no riso que provoca, pode dizer-se que por trás do Ecofin está o Eurogrupo que durante muitos anos foi como Álvaro de Campos na Tabacaria: "Um cão tolerado pela gerência. Por ser inofensivo." Com o possível acordo franco-alemão para a reforma da zona euro na linha do que muitos países membros, entre os quais Portugal, vêm propondo em reação aos documentos distribuídos pelas instituições, nomeadamente a Comissão, será possível marcar golos não só no Ecofin mas também no Eurogrupo, onde tudo começa mas nada tem acabado. Sem britânicos no Eurogrupo, não se receia concorrência no hew mah, como se lhe chama no filme do francês, narrado em inglês nos anos de ouro do euro.

Ex-ministro das finanças

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