O ministro da Saúde Adalberto Campos Fernandes já tinha afirmado que queria avançar com três novos hospitais - Lisboa Oriental, Seixal e Évora - e as primeiras verbas estão inscritas no Orçamento de Estado (OE)para 2017, que é hoje discutido no Parlamento: 25 milhões de euros. A estes junta-se o polo hospitalar de Sintra, fora do OE e anunciado pelo presidente da autarquia que disponibilizou um máximo de seis milhões de euros para a fase inicial. São 31 milhões de euros disponíveis, uma gota do que se estima ser preciso para colocar operacionais as quatro unidades: 3% de 857 milhões de euros..São projetos antigos, com protocolos assinados em 2007, 2009 e 2010, que nunca saíram do papel. No caso do Lisboa Oriental, que irá substituir o atual Centro Hospitalar Lisboa Central, ainda houve concurso para adjudicação da obra, com vencedor escolhido. A troika (Comissão Europeia, Fundo Monetário Internacional e Banco Central Europeu) travou o projeto, apesar dos edifícios dos hospitais de S. José, Santa Marta, Capuchos e uma parte do Curry Cabral terem sido vendidos à empresa pública Estamo e, segundo notícias da altura, o governo ter comprado o terreno para o novo hospital à Câmara de Lisboa por 12 milhões de euros. Também Évora e Seixal têm plantas desenhadas e os terrenos são do Estado..As primeiras verbas servirão para relançar os projetos e concursos para construção. São 10 milhões de euros para o hospital do Seixal - que à semelhança de Sintra será um polo hospitalar e deverá depender do Garcia de Orta -, igual valor para o hospital de Évora - substituição do atual - e cinco milhões de euros para o Lisboa Oriental (as últimas notícias estimavam um custo de 600 milhões de euros)..Haverá dinheiro suficiente?.Como serão financiadas as novas unidades? Numa comissão de saúde em junho, o ministro da Saúde disse que não estava prevista nenhuma parceria público-privada (PPP) com gestão clínica. Mas não recusou a ideia de parcerias para a construção. Questionado pelo DN, o ministério disse não poder antecipar dados que ainda não foram discutidos com os deputados..Para Miguel Santos, deputado do PSD, não vale a pena chegar à discussão de PPP ou não: "O OE tem défices terríveis e o ministro não pode deixar de compreender isso. O governo já devia ter definido modelos de construção, gestão, camas, especialidades e nada disso está apresentado. No final de 2017 não haverá nada. Não há meios financeiros alocados". Ainda sem mais a dizer, Isabel Galriça Neto, do CDS, afirma que "acabadas as limitações do passado deveriam avançar"..Luísa Salgueiro, deputada do PS, afirma que "neste momento não está em cima da mesa nenhuma PPP e o dono da obra deve ser o governo. Devem ser criadas condições para concorrer a verbas comunitárias, o que pode ser gerido em parceria com o ministério do Equipamento". Paula Santos, do PCP, diz que "o financiamento para estes hospitais deve ser público, seja do OE ou com recurso a fundos comunitários. O que tem de ficar salvaguardado é que nos anos seguintes há verbas necessárias para prosseguir". Preocupa a deputada que as camas previstas para o Lisboa Oriental sejam metade das do Lisboa Central. "Uma das soluções poderá ser manter uma das unidades atuais em funcionamento", sugere. A líder do BE Catarina Martins já deixou claro que é contra as PPP..O polo hospitalar de Sintra ficará na dependência do Amadora-Sintra. A autarquia dá até seis milhões de euros para o arranque do projeto. O terreno será camarário, com cedência de superfície por 30 anos, ou privado que a câmara terá de adquirir por compra, doação ou expropriação. A Câmara do Seixal também irá apoiar com a isenção do pagamento de taxas municipais e a construção de acessos e infraestruturas num valor próximo de dois milhões de euros. O município de Évora diz estar empenhado, mas refere fortes restrições financeiras..A favor das parcerias.Luís Filipe Pereira, ex-ministro da saúde e ex-presidente da comissão de avaliação do Lisboa Oriental em 2013, explica que "o hospital justifica-se e é uma peça importante na rede hospitalar de Lisboa". "Sempre defendi que as PPP se justificam, inclusivamente nos serviços clínicos porque transfere o risco para o privado. O que é preciso é que o Estado negocie bem e controle o acordado". Miguel Gouveia, economista da saúde e autor de um estudo sobre as PPP de Braga e Cascais, refere que as maiores poupanças estão na gestão clínica. "Acho que é uma estratégia que não deve ser posta de lado. Quanto ao Seixal e Sintra, são dois modelos novos e que deveriam ser comparados com a possibilidade de centros de saúde mais equipados. Sobre o Lisboa Oriental, pode haver um problema complicado se não fecharem as unidades antigas quando abrirem o novo hospital. Seria uma calamidade do ponto de vista económico.".O DN questionou os três grupos privados com PPP na saúde sobre o eventual interesse nas novas unidades. Só o grupo Lusíadas Saúde respondeu, dizendo que "caso se venha a tornar realidade o modelo, faremos a avaliação necessária na altura adequada"..Os novos hospitais.Polo hospitalar de Sintra.› Ficará sob a dependência do hospital Amadora-Sintra. Terá urgência básica, consultas externas, cirurgia de ambulatório e meios complementares de diagnóstico e terapêutica. Prevê-se a existência de uma unidade de cuidados continuados integrados de convalescença, com 40 a 60 camas. Terá pelo menos dois blocos operatórios. A Câmara de Sintra suporta até seis milhões de euros. Custo total estimado: 30 milhões de euros.Hospital de Évora.› O objetivo é ter um hospital central com mais especialidades e diferenciadas. O projeto inicial previa uma capacidade de 351 camas, extensível a 440, para uma primeira área de influência de 150 mil pessoas, dos 14 concelhos do distrito de Évora. Em segunda linha, e para algumas especialidades, a área de abrangência serão as 440 mil pessoas dos restantes concelhos do Alentejo. Custo total estimado: 167 milhões de euros.Hospital Lisboa Oriental.› Irá nascer na zona de Chelas e pretende ser um hospital com uma organização mais moderna. A unidade terá 825 camas e deverá respeitar o projeto inicial. Estava previsto que tivesse perto de 90 gabinetes de consultas externas, 22 salas de cirurgia, 17 especialidades médicas e 14 cirúrgicas. O atual ministro da saúde garantiu autonomia pediátrica, que estará "acautelada no programa funcional". Custo total estimado: 600 milhões de euros.Hospital do seixal.› Estará vocacionado para os cuidados em ambulatório, com serviço de urgência básica 24 sobre 24 horas. Prevê a realização de consultas externas diferenciadas de alta resolução, com meios complementares de diagnóstico e terapêutica. Terá 72 camas, 60 de convalescença e 12 de cuidados paliativos, 23 especialidades e unidades de apoio domiciliário e de medicina física e de reabilitação. Custo total estimado: 60 milhões de euros