Opositor a Sassou Nguesso morre de covid-19 no dia das presidenciais
O principal opositor ao presidente Denis Sassou Nguesso, da República do Congo, morreu no dia das eleições presidenciais, vítima de covid-19, quando o avião médico que o levava para França tinha acabado de aterrar. Guy Brice Parfait Kolélas, diabético de 61 anos, que em 2016 tinha sido segundo com 15% dos votos, disse aos jornalistas na quinta-feira que pensava que tinha malária. Na sexta-feira, faltou ao último comício e foi admitido num hospital privado, onde se soube que tinha covid-19. Já no sábado, gravou um vídeo desde a cama de hospital a dizer que lutava contra a morte e apelando ao voto no domingo.
O presidente Sassou Nguesso, de 77 anos e 36 deles no poder (primeiro entre 1979 e 1992 e depois desde 1997), deverá ser reeleito numas eleições boicotadas pelo principal partido da oposição e nas quais enfrentava seis adversários. Parfait Kolélas, professor de Economia e filho de um ex-primeiro-ministro, era o favorito entre os seis. Os resultados provisórios só devem ser conhecidos nos próximos dias, mas o presidente acreditava na reeleição logo na primeira volta - os opositores queixam-se de falta de transparência nas eleições. A internet foi bloqueada no sábado à noite.
"Levantem-se como uma só pessoa... Estou a lutar no meu leito de morte, vocês também podem lutar pela mudança", disse Parfait Kolélas no vídeo que publicou no sábado, apelando aos cerca de 2,5 milhões de eleitores que votassem "pelo futuro das nossas crianças". E continuou: "Vão e votem pela mudança, então não terei lutado por nada." O avião médico que levava Parfait Kolélas tinha acabado de aterrar em França quando este morreu. Segundo a AFP, a procuradoria de Paris abriu um inquérito às causas da morte.
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Pako, como era conhecido, era o quarto de 12 filhos de Bérnard Kolélas, antigo presidente da Câmara de Brazzaville e primeiro-ministro que fugiu para o exílio quando Sassou Nguesso voltou ao poder em 1997 - durante a segunda guerra civil na República do Congo. "Foi quando estávamos no exílio que o meu pai me pediu que seguisse a luta política", disse Parfait Kolélas num dos comícios. Em 2007, o partido do pai chegou a acordo com o do presidente (permitindo o seu regresso do exílio), com Pako a ser nomeado ministro das Pescas e, mais tarde, ministro da Função Pública.
Mas acabaria por se distanciar de Sassou Nguesso, quando se opôs às alterações constitucionais que permitiram levantar o limite de mandatos presidenciais. Em 2016, fundou o seu próprio partido, a União dos Democratas Humanistas - YUKI, e foi candidato às presidenciais, tendo ficado em segundo. Os resultados de 2016 desencadearam uma onda de violência. O presidente, após votar neste domingo, disse que uma "atmosfera de paz" na campanha - marcada por perseguição das autoridades à oposição - era "um bom sinal para a democracia".
susana.f.salvador@dn.pt