Oposição arrasa mensagem de Natal "sem esperança" que "esqueceu" o país
Não convenceu nem à Esquerda nem à Direita. Todos os partidos, exceto naturalmente o PS, viram poucochinho na mensagem de Natal de António Costa. Até o PAN, que aceita integrar um governo socialista, viu pouco nas palavras do primeiro-ministro. A desilusão assenta numa ideia comum a toda a oposição: faltou país no que foi dito aos portugueses ou como diz Filipa Correia Pinto, do CDS, "há mais vida para além da pandemia" - frase que o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, proferiu a 5 de julho deste ano e que António Costa, no dia seguinte, retocou: "Tem de haver mais vida para além da covid." Mas, "chegar lá de boa saúde", acrescentaria.
Nos antigos parceiros de geringonça é sublinhada a ideia de que "esperava-se mais" até mesmo de um "discurso monotemático", como diz o líder parlamentar do BE, sobre a pandemia. "Ficou-se pelo elogio ao Serviço Nacional de Saúde e aos seus profissionais", aponta o líder parlamentar do PCP.
"Mais importante", diz João Oliveira, "teria sido o primeiro-ministro apontar uma perspetiva de concretização das medidas que há muito tempo estão identificadas como essenciais e decisivas na resposta à epidemia" e que passam pelo "reforço das equipas de saúde pública, a contratação de mais profissionais de saúde, a recuperação das consultas, dos exames e das cirurgias que ficaram em atraso ou até do pagamento do subsídio de risco aos profissionais de saúde, como verdadeiro elemento de valorização do seu empenho e do seu esforço".
O PCP queria ter escutado António Costa dar respostas para a "situação de milhões de portugueses que vão atravessar esta quadra festiva atravessando problemas de desemprego, de baixos salários ou baixas pensões, de horários de trabalho desregulados ou precariedade laboral, de falta de acesso à habitação ou risco de a perder, ou de falta de creche para os seus filhos".
"Mas não foi isso que aconteceu", constata João Oliveira.
Pedro Filipe Soares lamenta que não tenha havido, por exemplo, "uma palavra sobre os professores que faltam nas escolas, e como isso afeta as famílias (...) e nem uma única palavra sobre combate ao crime económico". E mais uma ausência ainda: "Faltou uma palavra para justificar a falta de investimento no Serviço Nacional de Saúde ou do reforço de equipas e serviços de rastreio, tão essenciais neste momento pandémico."
O líder parlamentar do BE esperava mais de "um discurso que em princípio é marcante sobre o momento", mas "nem uma ideia para uma economia justa, capaz de criar mais riqueza e de a distribuir melhor para melhorar a vida de todas e de todos" e "num ano marcado, por mais uma vez, fraudes milionárias".
À direita [no PSD e CDS], as críticas são coincidentes. "Passou a ideia de que a pandemia é o mal principal no nosso país, mas isso não é verdade", afirma André Lima Coelho, vice-presidente social-democrata. "Tem um único objetivo: confinar e resumir Portugal e a nossa vida coletiva à covid e ao medo da doença", diz Filipa Correia Pinto, cabeça de lista do CDS pelo Porto às eleições legislativas de 30 de janeiro.
O vice-presidente do PSD, que classifica a mensagem de António Costa de "contida, geral e abstrata", critica as palavras que deram a impressão de "que o que esteja a correr mal no nosso país se deve apenas e só aos efeitos diretos ou indiretos da pandemia e, todos sabemos, não ser verdade". E o agradecimento aos profissionais do Serviço Nacional de Saúde devia ter sido "em dobro" porque as difíceis condições "que eles estão a viver nos hospitais e centros de saúde e muitas das demissões em bloco não são consequência da covid-19, mas sim das condições de trabalho em que se encontram".
André Lima Coelho olha para a mensagem de António Costa e vê nela palavras de um comentador político, de um analista. "O senhor primeiro-ministro é quem tem a função, a obrigação e o dever por força das funções que exerce de também conduzir o país e faltou uma mensagem no sentido do que fazer para além daquilo que analisou", critica.
Filipa Correia Pinto, do CDS, diz que o primeiro-ministro insiste em "mostrar que acredita no mundo de faz de conta que construiu para distrair os portugueses". E explica: "Faz de conta que as famílias e as empresas não vivem asfixiadas pelos impostos, faz de conta que trabalhar é suficiente para não se ser pobre, faz de conta que não temos os combustíveis mais altos da Europa, faz de conta que a pandemia se resolve com incompreensíveis restrições à nossa liberdade individual, faz de conta que os milhões de Bruxelas capturados pelo Estado e pelo setor público vão resolver o atraso da nossa economia."
"E, sobretudo", sublinha, "faz de conta que depois das próximas eleições vai poder continuar a governar ou com uns, ou com outros e continuar a ser primeiro-ministro", mas "este pode bem ser o último Natal do mundo do faz de conta" de António Costa.
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