Todas as soluções que conheço para a paz entre Israel e o Hamas levam muito tempo. Demasiado tempo. E neste momento não há tempo a perder..Em primeiro lugar, e quaisquer que sejam os antecedentes e a história, nada justifica um ataque a inocentes civis por parte do Hamas. Nada. A minha condenação e consternação profunda pelo sucedido. Terrorismo é isto mesmo. É terrorismo. Mas e as soluções?.Trabalhar agora em diálogo e em negociação dialogante é uma quimera. Encontrar um mediador à altura das conversações, por exemplo, é não mais que um devaneio..O reconhecimento mútuo e o direito à autodeterminação entre Israel e um putativo estado palestiniano implicaria o reconhecimento dos direitos palestinianos e dos territórios ocupados por Israel. Impossível..A redução da violência, o comedimento, o cessar-fogo, o arrepio do caminho encetado (embora provocado) seria um passo importante e o único de bom senso face ao que foi e será uma chacina humanitária..Ajuda humanitária impõe-se, claro, mas será complexíssima. Quem vai entrar, e como, em Gaza? Melhorar as condições de vida? Enfim, mitigar sofrimento e proporcionar o menor dos menores males às populações inocentes..Estabelecimento de um Estado palestino? Nesta altura do campeonato corre-se mais o risco de Gaza ser anexada ao território israelita. Seria um objetivo a prazo. Mas também desconfio que com estes interpretes estabelecer e acordar um conjunto de lógicas de convivência vizinha em segurança e com territórios delimitados seria sempre impossível..Desmilitarização de Gaza? Risível. Pois se Gaza tudo fez para provocar o seu vizinho e deixar um banho de sangue o que esperará agora? Fazer o filme da morte de cada um dos sequestrados, difundindo-o, será uma belíssima medida para acabar em pó. Em nada. E para morrerem, literalmente, 2 milhões de pessoas. É isto que se pretende?.Como pode participar a comunidade internacional? A comunidade internacional, incluindo as Nações Unidas e outros atores, poderia e já há muito o deveria ter feito, tornar-se ativa no desempenho de um papel relevante na promoção e manutenção da paz na região. Infelizmente não há qualquer hipótese para isto agora. Tarde demais..A educação e a mudança profunda da narrativa, tal como a educação para a coexistência de paz é crucial, especialmente entre as gerações jovens em Israel e na Palestina. Mas explique-se a um jovem que a paz é sempre, em qualquer circunstância, o melhor dos caminhos. Explique-se!.Há desafios políticos, históricos, culturais e religiosos complexíssimos nesta região. A paz será sempre uma quimera e este é o meu discurso de desânimo. Nada há que me lembre que possa funcionar. Não há soluções. Não há alternativas. E todo o mundo sofrerá as consequências de uma escalada do terrorismo em termos globais..Pedir ao mundo árabe moderação? Conheço alguns árabes e conheço a sua genuína vontade de moderar este ímpeto avassalador da continuidade de vingança. Serão a minoria racional..Conheço também alguns israelitas que, tenho a certeza, não se reveem, mesmo com o massacre sofrido, na exterminação da população de Gaza..No fim de contas o que podemos esperar? Nada. Acho que nada. Não haverá bom senso. Não haverá moderação. Não haverá abrandamento. E tudo o que se pretende é que não tenhamos uma crise humanitária de larga escala e novos e revividos e regozijados onzes de setembro..Mas se este é apenas um desejo, como desejo fica. Não encontro, por maior que seja a minha vontade de paz, e a nobreza que seria a imposição da paz por Israel - porque é, de facto, o único que a pode "impor" - a realização de tal ocorrência..Na cabeça dos homens não haverá paz. Apenas guerra. E mais guerra. E mais terrorismo. Se é incompreensível o que os judeus sofreram desde a segunda guerra mundial é nas suas mãos, na sua cabeça e no seu coração que haverá ou não lugar ao perdão. Mais uma vez. Complexíssimo. A pergunta que lhes resta será sempre a mesma: porquê sempre nós?.Bem-vindos, de novo, ao Antigo Testamento. Porque nunca haverá paz sem perdão. Por qualquer um dos lados..Presidente do Iscte Executive Education