A maioria dos aficionados dos jogos e apostas online em Portugal tem atividade em sites ilegais. O Serviço de Regulação e Inspeção de Jogos (SRIJ), o regulador deste mercado, já foi informado que estão contabilizados mais de 300 operadores em território nacional à margem da lei, revela Rui Magalhães, CEO da Estoril-Sol Digital, empresa de jogos de casino e apostas desportivas em plataforma eletrónica..O último estudo do mercado indica que 56% dos jogadores apostam em sites ilegais, uma tendência que um relatório de 2018 (um ano antes) já evidenciava, quando apontava para uma fatia de 75%. Legais no país estão 13 operadores, que exploram atualmente 22 licenças de jogo..Segundo as contas de Rui Magalhães, o mercado legal português "apenas representa 44%" do bolo geral do jogo online, estimando que os operadores sem licença tenham garantido no ano passado receitas brutas (valor que resulta do abate dos prémios ao total das apostas) superiores a 256 milhões de euros no país. O gestor sublinha ao Dinheiro Vivo que o Estado "terá deixado de arrecadar em impostos, proporcionalmente, um total de 120,6 milhões de euros"..Segundo os dados do SRIJ, a atividade licenciada gerou no ano passado receitas brutas da ordem dos 215 milhões. Em impostos, pagou 94,8 milhões..Jogo em pandemia.Porque é que o jogo online ilegal é tão apelativo no nosso mercado? Para Rui Magalhães há duas razões fundamentais: o preço e a oferta de conteúdos. Os operadores ilegais já são velhos conhecidos dos apostadores (a oferta de jogos e apostas online tem quase 20 anos) e oferecem "preços muito mais atrativos, porque não pagam os elevados impostos do mercado regulamentado, nem têm qualquer limitação na oferta do produto"..Neste capítulo, empresas licenciadas em Portugal já vieram defender a legalização de produtos como eSports, live-dealing, scratch-cards, entre outros..Rui Magalhães lembra que na vizinha Espanha, onde existem cerca de 50 operadores, o mercado vale quase quatro vezes o português e aí o peso dos ilegais anda entre os 15% e os 20%..Apesar da concorrência desleal, o jogo online tem crescido em receitas e em número de operadores licenciados. No primeiro trimestre deste ano, as receitas brutas do setor atingiram os 69,8 milhões de euros, um aumento de 47,5% face ao período homólogo de 2019 e de 6,7% face ao último trimestre do ano passado..O volume de apostas desportivas não acompanhou a tendência ascendente dos últimos trimestres, devido à suspensão de múltiplos jogos provocada pela pandemia do novo coronavírus. Assim, as apostas desportivas totalizaram 149,1 milhões nos três primeiros meses deste ano, uma quebra de 19,5% face ao trimestre anterior, mas um aumento de 13,5% quando comparado com o homólogo de 2019..Em sentido inverso, o volume de apostas em jogos de casino subiu para 960,8 milhões de euros no primeiro trimestre deste ano, um aumento de 57,9%, também derivado da atribuição de mais seis licenças. Face ao quarto período de 2019 registou-se um incremento de 12,7%..Nos primeiros três meses do ano, o Estado arrecadou 20,8 milhões em impostos, uma subida de 40,1% relativamente ao mesmo período de 2019..PUB e raspadinhas.Mas não é só o jogo online ilegal que preocupa Rui Magalhães, que antevê a possibilidade de a atividade ter em breve mais uma frente de "concorrência desleal". O PCP tem uma proposta de alteração de lei que visa limitar a publicidade de jogo em meios como a televisão e a rádio, e onde defende regras como as existentes para o tabaco e bebidas alcoólicas..Para o gestor, esta proposta levanta duas preocupações: o facto de os operadores ilegais não terem limitações a este nível, publicitando em meios digitais e até físicos; e ser um fator discriminatório face aos jogos da Santa Casa, nomeadamente à oferta Placard, jogo disponibilizado em quiosques e outros espaços físicos e também a nível digital..Rui Magalhães defende que o jogo online poderá estar assim "perante uma situação de concorrência desleal, quer em relação à oferta ilegal quer em relação às apostas e jogos sob a marca Placard"..Outra frente que parece difícil de vencer é a Raspadinha. Apesar das diversas denúncias feitas à tutela, este jogo social é vendido também online, "num formato em tudo similar à definição de uma slot machine e com jogos que apresentam, na sua grande maioria, motivos infantis, apelando ao público numa forma que é proibida pela lei que rege o jogo online"..Para Rui Magalhães, a adesão dos portugueses à Raspadinha "é massiva e preocupante", lembrando que é o jogo que mais vende em Portugal - em 2018, valeu 1,6 mil milhões de receitas -, "quase três vezes mais do que todos os casinos físicos e operadores de jogos online legais". E, isto, quando a Raspadinha é de fácil acesso e com um tempo de ciclo muito curto, em que em poucos segundos é possível saber o resultado e ativar os mecanismos psicológicos e psicoquímicos que potenciam a adição e os comportamentos de risco..Jornalista do Dinheiro Vivo