Doze agentes da polícia executaram ao início da manhã de ontem um mandado de busca e apreensão na casa do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, do PMDB, em Brasília, no âmbito da operação Lava-Jato. Esta investiga o escândalo de corrupção em torno da Petrobras, conhecido como petrolão. Os agentes recolheram documentos, computadores e o telemóvel pessoal de Cunha. A polícia esteve também no gabinete do deputado na câmara, na sua moradia e no seu escritório no Rio de Janeiro. A operação, batizada de Catilinárias (conjunto de discursos do cônsul romano Cícero contra o senador e candidato ao cargo de cônsul Lúcio Catilina), atingiu ainda outros nomes influentes do PMDB, num total de 53 mandados emitidos..[citacao:Causa estranheza que em pleno processo de impeachment se faça esta investigação quando quem assalta o país, e assaltou a Petrobras, é o PT, eu estou inocente].Cunha autorizou no início do mês o processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, de quem é inimigo declarado, estando ele próprio a ser investigado por suspeita de corrupção e lavagem de dinheiro no petrolão, nomeadamente por ter recebido cinco milhões de reais (cerca de 1,3 milhões de euros) em contratos de aluguer de navios-sonda. O presidente da Câmara dos Deputados está ainda sob investigação por possuir quatro contas na Suíça, não declaradas, cuja existência numa primeira versão desmentiu para numa segunda se declarar apenas como usufrutuário. "Causa estranheza que em pleno processo de impeachment se faça esta investigação quando quem assalta o país, e assaltou a Petrobras, é o PT, eu estou inocente", contra-atacou Eduardo Cunha..Em paralelo, correu na Câmara de Deputados a oitava sessão no Conselho de Ética que visa retirar o mandado de Cunha por suposta "falta de decoro" em declarações à comissão parlamentar de inquérito sobre o petrolão nas quais terá mentido ao negar a posse das contas na Suíça. Ontem, o relator do processo leu parecer favorável à destituição. Caso venha a ser destituído da presidência da câmara e perca o mandado de deputado, Cunha fica sem o foro privilegiado e sob jurisdição do tribunal de primeira instância do Paraná, liderado pelo juiz Sérgio Moro..Além de Cunha, dois ministros do governo de Dilma, um senador e dois deputados ligados ao PMDB foram alvo de buscas. Celso Pansera, ministro da Ciência e Tecnologia, nomeado na remodelação governamental de outubro, é um aliado de Cunha - durante as investigações da Lava-Jato, Alberto Yousseff, intermediário do petrolão e um dos principais delatores do processo, chegou a chamar Pansera de "pau mandado" do presidente da câmara. O outro ministro investigado é o titular da pasta do Turismo, Henrique Eduardo Alves, antecessor de Cunha na liderança da câmara. O senador e antigo ministro Edison Lobão e os deputados Aníbal Gomes e Alexandre Santos também receberam visitas de agentes da polícia..Depois do PT, que viu o seu tesoureiro Vaccari Neto detido no âmbito da operação Lava-Jato, desta vez foi o PMDB, parceiro dos petistas no governo e partido dos dois chefes do Congresso Nacional, Eduardo Cunha e Renan Calheiros, e do vice-presidente Michel Temer, que herda a presidência em caso de destituição de Dilma Rousseff, o alvo das autoridades..Em São Paulo