"Open Arms": Ministério Público ordena desembarque de migrantes

Ministro Salvini diz que não se assusta com decisão, no mesmo dia em que Espanha anunciou o envio de um navio militar para transportar os migrantes do "Open Arms" até Palma de Maiorca.
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O Ministério Público italiano ordenou esta terça-feira o desembarque imediato dos migrantes a bordo do navio "Open Arms", ao ordenar a apreensão da embarcação. A Procuradoria de Agrigento exigiu que o navio atraque no porto de Lampedusa, de acordo com o jornal italiano La Repubblica.

Esta decisão foi tomada depois da visita do procurador de Agrigento, Luigi Patronaggio, a bordo do navio e de Espanha ter enviado um navio militar para levar os migrantes a bordo e transportá-los para Espanha. A iniciativa espanhola agora é inútil porque, precisamente, os migrantes serão transferidos para Lampedusa o mais brevemente possível, aponta o jornal italiano.

A decisão de Patronaggio foi tomada no final de uma reunião que manteve lugar no porto de Lampedusa com uma equipa de médicos, que também foi a bordo, e a administração da capitania do porto. A apreensão do "Open Arms", de bandeira espanhola, é preventiva. Os magistrados abriram um processo contra pessoas desconhecidas por omissão e recusa de registos oficiais.

O ministro do Interior, Matteo Salvini, de extrema-direita, que mantém uma política anti-imigração, acusada de violar princípios humanitários, saiu da sessão do Senado, onde o primeiro-ministro tinha pedido a demissão, em choque com Salvino, para se dirigir aos italianos, através de um direto no Facebook, sem intermediários.

"Se alguém pensa em me assustar com outra queixa e um pedido de julgamento, estão errados. Seria um gozo que, embora tenhamos convencido a Espanha a enviar um navio, alguém em Itália esteja a trabalhar para que eles [migrantes] desembarquem agora", atirou, segundo o Repubblica, defendendo que, como ministro do Interior, continua "teimosamente" a "defender as fronteiras do país" .

Antes de conhecida esta notícia, o ministro italiano dos Transportes tinha agradecido a Espanha o envio de um navio militar para transportar os migrantes do "Open Arms" até Palma de Maiorca e disse esperar que a organização seja impedida de continuar a operar.

"Graças à nossa interlocução dos últimos dias, Espanha anunciou o envio de um navio militar para transportar os migrantes do 'Open Arms' para a costa ibérica. Boas notícias", afirmou Danilo Toninelli em comunicado hoje divulgado.

"Finalmente, a situação até agora insustentável do navio da organização não governamental (espanhola) vai ter uma solução que protege as pessoas a bordo há 19 dias, e que não deixa o problema apenas para a Itália", acrescentou.

"Espero que Espanha responda ao nosso apelo e se comprometa a fechar a ONG 'Open Arms', através dos meios e métodos que julgar mais adequados", insistiu o ministro italiano.

Danilo Toninelli, que pertence ao Movimento 5 Estrelas, reagia à decisão de Madrid de enviar o navio da Marinha espanhola "Audaz" para Lampedusa a fim de transportar os migrantes para Maiorca.

A travessia duraria cerca de três dias, conforme relatado pelo Governo espanhol, e médicos e psicólogos viajam no "Audaz" para cuidar dos 100 migrantes que ainda estão no navio.

O governo regional das Baleares já está, entretanto, a trabalhar na logística para receber esses migrantes, que poderiam chegar ao porto de Palma domingo à tarde ou na segunda-feira, segundo as estimativas daquele executivo. Neste momento, desconhece-se se as autoridades espanholas vão suspender o envio do navio.

De acordo com um comunicado enviado à Lusa pela embaixada espanhola em Portugal, o navio "Audaz" partiu de Cádis, esta tarde em direção à ilha italiana de Lampedusa, onde deverá chegar daqui a três dias."O Governo [espanhol] considera que esta é a opção mais adequada para resolver, ainda esta semana, esta emergência humanitária", refere a embaixada no comunicado.

O navio humanitário "Open Arms" resgatou, em 1 de agosto, 134 pessoas do mar Mediterrâneo ao largo da Líbia, mas os dois países mais próximos, Itália e Malta, recusaram-lhe o acesso aos seus portos. Duas semanas depois, a organização não-governamental espanhola que opera o navio, a Proativa Open Arms, avisou que a situação estava "fora de controlo", num vídeo gravado numa lancha frente ao navio.

No sábado, o ministro do Interior italiano, Matteo Salvini, autorizou o desembarque de 29 menores a bordo do navio, e, no dia seguinte, o Governo espanhol propôs receber o navio em Algeciras face à "inconcebível" recusa de Itália em autorizar o desembarque.

No entanto, a "Open Arms" declinou a oferta, tendo uma porta-voz explicado ser impossível viajar até Algeciras dada a "situação insustentável" a bordo.

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