A OPA à EDP está morta desde ontem, pela mão de 56,6% dos acionistas que na assembleia geral chumbaram a desblindagem dos votos. Mas António Mexia, o CEO do grupo, acredita que há vida além da operação pública de aquisição lançada há quase um ano pelos acionistas chineses da China Three Gorges (CTG). A verdade é que esta era já há muito uma morte anunciada..Não foi, por isso, com cara de enterro nem sentimento de pesar, que António Mexia falou aos jornalistas no fim de várias horas de reunião à porta fechada, onde estiveram representados 65,18% dos acionistas da empresa.."Este resultado é da exclusiva responsabilidade dos acionistas. O plano estratégico até 2022 que apresentámos há pouco tempo mereceu o apoio de todos, incluindo da CTG. E isto dá um sinal claro sobre objetivos ambiciosos para o futuro. A parceria estratégica com a CTG é importante e é para manter. Tem potencial e tem de ser desenvolvida. Estamos tranquilos sobre o futuro da companhia e da parceria", disse Mexia. Ao seu lado, Luís Amado, presidente do Conselho Geral de Supervisão, reforçou o papel do acionista chinês: "A CTG é um pilar fundamental da empresa.".Afastando sempre qualquer clima de divisão ou desconforto entre a administração da EDP e os acionistas chineses, António Mexia garantiu que "todos estão alinhados e coesos quanto ao plano de negócios" e que "o futuro da empresa não dependia nunca desta OPA". Prova disso, sublinhou Luís Amado, é que "foram aprovados hoje por unanimidade o orçamento da EDP para 2019 e o plano estratégico". "Independentemente do resultado da OPA, há coesão acionista quando ao futuro da empresa", garante o CEO, dizendo que "era claro quem estava a favor da blindagem". "A CTG estava na sala. Quem queria defender a sua posição marcou presença. Mas para ser aprovada precisava de 66% a favor, o que não teve", rematou Mexia que, ao contrário do que é habitual, não exerceu o seu direito de voto..Sendo ponto assente que os chineses da CTG estão de pedra e cal na EDP, Mexia lembrou que a América Latina já é área de colaboração, onde têm projetos hídricos em conjunto. "Estamos também a trabalhar em conjunto para entrar em novos mercados.".Quanto às vantagens da presença da CTG no núcleo acionista, Luís Amado referiu que sem os chineses "é difícil resistir a dinâmicas de mercado e pressões exercidas sobre uma empresa da dimensão da EDP". Falando em nome dos acionistas chineses, Amado garantiu uma "intenção clara de continuar a contribuir para a projeção da EDP em termos internacionais. Mas, em concreto, que opções vão tomar, só eles podem dizer"..Com a CTG a bordo, a EDP fica também protegida contra eventuais novas OPA de grandes empresas europeias. "A EDP já é um naco grande. Temos de ter um núcleo forte de acionistas para estarmos mais defendidos perante outras operações", disse António Mexia. "A CTG sempre disse: aconteça o que acontecer, estamos interessados em participar no futuro da empresa. Deixaram claro o interesse de longo prazo, independentemente do resultado da oferta.".A CTG já avançou planos além da OPA à EDP, que incluem a possibilidade de avançar com uma joint venture na América Latina, o que permitiria investir em alguns dos ativos da EDP no Brasil ou até mesmo criar uma nova empresa neste mercado, partindo de participações divididas entre chineses e portugueses, segundo avançou a Reuters. Para já, assumem manter-se como parceiros estratégicos..Quanto à EDP, tinha já provado em fevereiro que há vida além da OPA, ao apresentar, em Londres, o seu update estratégico até 2022, com investimentos na ordem dos 12 mil milhões de euros, um plano de venda de ativos na Península Ibérica de dois mil milhões de euros e ainda um plano de rotação de ativos de quatro mil milhões de euros, do qual já anunciaram a primeira tranche de 800 milhões - a venda de uma série de posições acionistas em projetos de energia eólica da EDP Renováveis.