Onyx sai e Bolsonaro nomeia um general para a Casa Civil

O presidente do Brasil mexeu na pasta com mais peso político no governo: saiu o enfraquecido Onyx Lorenzoni, seu amigo pessoal, entra Walter Braga Netto, décimo militar no executivo. E este pode ser apenas o início de uma profunda remodelação no gabinete.
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O controverso Onyx Lorenzoni deixou de ser o titular da Casa Civil, uma espécie de primeiro-ministro na política brasileira, por decisão de Jair Bolsonaro. Para o seu lugar, o presidente da República escolheu Walter Braga Netto, mais um general, o 10.º militar no primeiro escalão do governo, contando com o capitão reformado Bolsonaro e o vice-presidente general Hamilton Mourão. Pode começar assim uma dança de cadeiras, já anunciada, no Palácio do Planalto.

Onyx Lorenzoni, 65 anos, amigo de longa data de Bolsonaro, com quem partilhou por décadas as cadeiras do fundo da Câmara dos Deputados - conhecidas na gíria de Brasília por "baixo clero" - esteve a arder em lume brando ao longo de janeiro. De férias, viu o presidente demitir os seus colaboradores mais próximos na Casa Civil, na sequência do escândalo do voo com dinheiro público de Vicente Santini, um desses colaboradores, de Davos para Nova Déli, e a posterior readmissão dele no ministério, com o mesmo salário, mas noutro cargo.

De resto, Onyx, a quem competia a articulação política do governo com o Congresso Nacional, era acusado dentro do governo de não ter cumprido, longe disso, essa tarefa, ao longo do ano que durou no cargo.

Mais: o político, cujo futuro pode passar por concorrer ao governo do Rio Grande do Sul nas eleições de 2022 ou passar para a pasta da Cidadania, caso a remodelação governamental se confirme, causou o primeiro grande embaraço do novo presidente. Em causa, a abertura de um processo contra ele no Supremo Tribunal Federal (STF) por ter recebido doações ilegais de campanha. Na ocasião, o vice-presidente Hamilton Mourão chegou a dizer que "o ministro teria de se retirar do governo". O ministro da Justiça Sergio Moro, apesar da fama de implacável na luta contra a corrupção, contemporizou: "o Onyx se arrependeu", disse.

A seguir, Onyx promoveu aquilo a que chamou de "despetização" [retirada de membros do Partido dos Trabalhadores] da estrutura da Casa Civil. Com essa exoneração em massa de antigos funcionários públicos de carreira que trabalharam sob as gestões de Lula da Silva e de Dilma Rousseff paralisou o corpo técnico do Planalto.

Com a página Onyx Lorenzoni virada, é um general que se vai ocupar da Casa Civil. Braga Netto ficou conhecido por, na gestão de Michel Temer, ter comandado uma controversa intervenção militar no Rio de Janeiro - foi durante essa intervenção que a vereadora Marielle Franco e o seu motorista, Anderson Gomes, acabaram executados.

Depois desta troca, o efeito dominó pode levar Onyx para o Ministério da Cidadania, saindo Osmar Terra. Abraham Weintraub, contestadíssimo ministro da educação, também pode ser demitido.

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