ONG acusa China de forçar confissões transmitidas pela televisão
Confissões transmitidas pela televisão, feitas sob coação, são frequentes na China, denuncia a organização não-governamental Safeguard Defenders, apontando a utilização das imagens de réus pela propaganda e política externa chinesas.
"Todos os entrevistados denunciaram terem sido obrigados a confessar. E não sabiam que as imagens seriam transmitidas na televisão", aponta o relatório "Scripted and Staged", elaborado pela organização.
Segundo a ONG, a polícia dita e dirige as confissões feitas antes do julgamento.
O relatório analisa as gravações de 45 confissões transmitidas entre 2013 e 2018, e inclui entrevistas com uma dezena de pessoas, detidos ou seus familiares, que foram forçados pela polícia a confessar diante das câmaras.
Um dos casos é o do executivo na China do gigante farmacêutico britânico GlaxoSmithKline, Liang Hong, que aparece na emissora estatal CCTV a confessar ter feito um suborno, em julho de 2013, na primeira confissão de alto perfil a ser emitida.
"Apesar de violar a lei nacional sobre o direito a um julgamento justo, e muitas proteções internacionais dos direitos humanos, desde então foram emitidas pela televisão estatal chinesa, e em alguns casos por órgãos de Hong Kong, dezenas de confissões forçadas de alto perfil, incluindo muitas de cidadãos estrangeiros", acrescenta.
Num dos "piores casos", o investigador britânico Peter Humphrey concordou reunir-se com jornalistas chineses, mas foi então sedado e detido, para que a televisão estatal filmasse uma confissão.
Segundo o mesmo relatório, a polícia usa regularmente ameaças - contra os detidos e seus familiares -, e tortura física e mental, para forçar a confissão.
Os entrevistados revelaram que a polícia lhes entregou um guião, que tinham que memorizar e, em alguns casos, foram mesmo obrigados a chorar.
Os detidos tinham que repetir a gravação até que as autoridades aprovassem o resultado.
"As confissões transmitidas pela televisão na China são uma reminiscência de episódios violentos e degradantes de perseguição política ao longo da História", acusa a Safeguard Defenders.