Onde vive Juncker?

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Os investidores particulares retiraram mais dinheiro dos fundos de investimento britânicos no mês em que o Reino Unido votou a sua saída da União Europeia do que em qualquer outro mês da última crise financeira.

Uma primeira leitura dos números sugere que os investidores atribuíram ao brexit maior importância e mais risco do que à crise de 2008. Não é assim, porque já lá vão muitos anos, muitos factos económicos e financeiros novos, as lógicas de investimento mudaram, o Reino Unido não é o mesmo de há sete ou oito anos, e a verdade é a mesma relativamente à Europa e ao resto do mundo. Ainda nesta terça-feira, o Japão aprovou o terceiro maior pacote de estímulos à economia em 24 anos: 245 mil milhões de euros. Afinal, o que se passa com esta economia? Esta é apenas uma das muitas perguntas que vão ficando sem resposta.

De volta ao Reino Unido, esta fuga de investimentos mostra, indiscutivelmente, uma muito maior apreensão dos investidores, que ficaram francamente abalados após o referendo que resultou no sim à saída da União Europeia. Com o brexit, foram sete os fundos de investimento imobiliário que suspenderam a negociação após um pico de pedidos de resgate.

Insegurança, instabilidade e incerteza, os piores inimigos dos investidores e dos mercados. E no futuro do Reino Unido e da Europa, depois do brexit, disso não falta.

Mas no mesmo dia em que foram divulgados estes números, aparentemente indiferente ao brexit, Jean-Claude Juncker, presidente da Comissão Europeia, escolheu outro britânico para a pasta da Segurança. O comissário Julian King ficará responsável pela luta contra o terrorismo e o crime organizado, um cargo antes assumido pelo britânico Jonathan Hill, que se demitiu após o resultado do referendo. Hill retirou as devidas consequências e demitiu-se. Poucas semanas depois, sem que nada de relevante se tivesse dito e feito para formalizar o brexit, Juncker substitui-o, com naturalidade, por outro britânico.

O Reino Unido sai da UE, mas isso jamais será o mesmo que dizer que deixa a Europa. Mas não terá sido excesso de empenho da parte de Bruxelas em insistir num britânico para uma pasta de tanta relevância? Governantes, empresários, investidores, cidadãos europeus e do resto do mundo sabem desde 24 de junho que mais de 50% dos britânicos decidiram deixar a União Europeia. Depois foram sabendo quais as possíveis consequências e em poucos dias foram soterrados de teorias e, ainda, informados de uma inevitável bizarria. O Reino Unido escolheu sair, mas ninguém sabe muito bem se quer realmente avançar, quando e como o deve fazer.

Isto não é senão incerteza e insegurança sobre o futuro do Reino Unido e da Europa, sobretudo quando a elite continua a lamentar profundamente a opção pelo brexit. Por mais bem-intencionada que seja a escolha de um britânico para comissário da Segurança, que sentido isso faz neste momento?

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