Quando soube da chegada do homem à Lua o motorista de Adriano Moreira perguntou-lhe se era verdade: "Isto é a sério?" Para o professor era uma pergunta normal: "Foi uma surpresa para grande parte da população mundial, portanto era natural." Adriano Moreira tinha então 43 anos e estava na sua casa de Lisboa na noite em que a RTP transmitiu as imagens que muitos não acreditavam ser verdadeiras. Observou a emissão e nunca mais se esqueceu do que viu - "ainda tenho as imagens bem presentes na minha cabeça" -, mas a sua principal conclusão foi de que "tinha começado uma nova época para o mundo".."Eu estava em casa à espera do acontecimento - não podia falhar", recorda. "A opinião geral era de que tinha começado uma nova época para o mundo, tal como se fortaleceu a ideia do Património Comum da Humanidade." E considera que o facto de o homem ter pousado na Lua "emocionou toda a gente" e que a humanidade "ficou profundamente esperançosa"..Para o professor esta foi uma viagem que implicou um grande trabalho e coragem dos tripulantes. Mais do que isso, "aqueles homens voltaram diferentes. Ficaram personagens internacionais e tornaram-se os primeiros cidadãos do universo. Não só tinha começado uma nova época como se inaugurara a cidadania universal"..Se a memória daquelas horas no ecrã a preto e branco da televisão nunca desapareceu, no entanto existe outra que imediatamente se recorda: "Eu era presidente da Sociedade de Geografia de Lisboa e recebi em casa uma delegação americana que me entregou um bocadinho de Lua. Os astronautas tinham trazido uma pedra, dividiram-na em várias partes e ofereceram uma à instituição. Foi muito simpático da parte deles." A emoção foi tanta que não resistiu a tirar uma fotografia do seu filho ainda bebé junto ao pedaço de Lua: "Queria marcar que a vida dele era já de outra época.".Adriano Moreira considera que a viagem à Lua teve uma razão: "A curiosidade do homem não tem limites." Quando se pergunta se concorda com a tentativa de ir a Marte, apenas responde: "Isso já é uma outra problemática.".Quotidiano preocupava mais Maria Filomena Mónica.A reação da socióloga Maria Filomena Mónica é oposta à de Adriano Moreira: "Estava em Lisboa, a trabalhar no Ministério da Saúde, a acabar a minha tese de licenciatura em Filosofia e a aprender a tocar violoncelo. Nada que estivesse fora disto ocupava o meu espírito. Nem o país, quanto mais a Lua!".Ao perguntar-se se foi importante esta aventura espacial para a humanidade, Filomena Mónica responde afirmativamente. Mas com os pés na Terra: "Foi, por razões evidentes, e ainda por outras que me tocam mais: alguns objetos caseiros, como o micro-ondas, que passaram a fazer parte da nossa rotina doméstica devido a descobertas feitas pela NASA.".A transmissão televisiva da chegada do homem à Lua nada lhe diz: "Pode parecer estranho, mas é a verdade. Tinha 26 anos e nesse mês de julho estava em vésperas de tomar uma das mais dolorosas decisões da minha vida: a separação do meu primeiro marido, de quem tinha dois filhos, um com 5 e outro com 6 anos. Passava os dias a tomar notas sobre o que desejava e não desejava da minha vida. No dia em que Armstrong pôs as botas na superfície lunar, tinha acabado de traçar um novo rumo para o meu futuro..Nem mesmo cinquenta anos depois este tema a seduz: "Suponho que me deveria interessar, mas não acontece. Há tantas coisas na Terra que me seduzem ou que me aterrorizam que as proezas galácticas se perdem entre o meu banal quotidiano.".António Mega Ferreira preferia a política.Sabe que estava na sua casa, mas daquela noite Mega Ferreira só tem uma "recordação longínqua, mesmo muito remota". Não se lembra de ter visto em direto a chegada do homem à Lua. Por outro lado, é muito forte a marca de uma outra ida ao mesmo local anos antes: a de Tintin. "Essa viagem de Tintin num foguetão maravilhoso aos quadrados vermelhos e brancos e do qual tenho uma pequena réplica em casa é a minha história preferida de Hergé [nos álbuns Rumo à Lua e Explorando a Lua]. Esse sim foi sempre um horizonte de encantamento que tive na infância até porque, de alguma forma, antes de o homem ter chegado à Lua a minha imaginação já tinha viajado com o Tintin até lá.".A razão para não vibrar intensamente com esse feito é simples: "Sempre interpretei aquilo como uma competição espacial entre os Estados Unidos e a União Soviética, um episódio da Guerra Fria que naquela etapa foi vencida pelos americanos." Ou seja, "nunca tive essa versão universalista de que era o ser humano que tinha chegado à Lua, antes os americanos, o que é um pouco diferente"..Apesar de nunca ter posto em dúvida esse acontecimento, "ao contrário de alguns revisionistas recentes", Mega Ferreira tinha então 20 anos e estava no terceiro ano da Faculdade de Direito: "1969 é um ano de eleições em Portugal muito importante e nessa altura vivia com mais intensidade a questão política doméstica do que a corrida espacial. Andava a fazer campanha, entregava boletins de voto em toda a zona de Sintra e ia aos poucos comícios que havia. Estava mais centrado na luta académica e nas confrontações entre estudantes e polícia política na faculdade do que na chegada do homem à Lua."