Oligarca Leonid Nevzlin renuncia à cidadania russa. "Tudo o que Putin toca morre"
O oligarca russo-israelita Leonid Nevzlin pretende renunciar à cidadania russa, em protesto contra a invasão da Ucrânia por Moscovo. A decisão foi anunciada pelo próprio através de uma publicação no Facebook. Para ele, a cidadania russa tornou-se num "carimbo de vergonha" no passaporte que não quer usar mais. "Basta", escreveu. "Sou contra a guerra. Sou contra a ocupação. Sou contra o genocídio do povo ucraniano", partilhou na rede social.
"Não me posso dar ao luxo de ser cidadão de um país que mata crianças de outros países", lê-se na publicação. "Tudo o que Putin toca morre", considerou ainda Nevzlin, que há 20 anos fugiu para Israel.
"Fui um dos primeiros a ser atingido por Putin. Atirou os meus amigos para a cadeia e matou alguns deles", continuou o oligarca. "Passei quase 20 anos fora da Rússia, mas foi exatamente isso que me permitiu ver o seu processo de apodrecimento e decomposição", afirmou.
Segundo escreve o "The Washington Post", Nevzlin foi um dos primeiros oligarcas russos "proeminentes a estabelecer um exílio em Israel, fugindo do que descreveu como uma campanha de perseguição politicamente motivada pelo presidente russo, Vladimir Putin".
De acordo com o jornal norte-americano, Nevzlin fugiu em 2003 para Israel na sequência de uma investigação apoiada pelo Kremlin sobre a sua empresa petrolífera Yukos. Era coproprietário da Yukos com Mikhail B. Khodorkovsky, que foi preso, acusado de fraude e, mais tarde, de peculato e lavagem de dinheiro. Aliás, numa entrevista recente à CNN Internacional, Khodorkovsky, que esteve uma década na cadeia, disse que Putin era um "inimigo da humanidade".
Nevzlin acabou por ser acusado de assassinato, tentativa de assassinato e crimes financeiros, tendo Israel recusado os pedidos de extradição da justiça russa. O oligarca negou todas as acusações, classificando-as como tentativas de Putin em silenciá-lo.
Diz-se cidadão de Israel, mas se pudesse escolher uma segunda, "ficaria orgulhoso em ter um passaporte ucraniano".
Para evitar sanções económicas, após a anexação da Crimeia pela Rússia em 2014, vários cidadãos russos ricos assumiram a cidadania israelita, recorda o The Washington Post. Um desses magnatas foi Roman Abramovich, dono do Chelsea, que tem, desde abril, a nacionalidade portuguesa ao abrigo da Lei da Nacionalidade como descendente de judeus sefarditas expulsos de Portugal no século XV.
Conta o jornal que muitos continuam a ter laços comerciais e financeiros com a Rússia, mas têm sido cautelosos em criticar publicamente a guerra na Ucrânia. É o caso do banqueiro Mikhail Fridman, alvo de sanções económicas, que descreveu a guerra como uma "tragédia" e que "nunca pode ser a resposta". No entanto, numa conferência de imprensa disse que nunca criticaria diretamente a invasão da Ucrânia pela Rússia para evitar represálias contra os seus funcionários.