Olavo de Carvalho. Morreu o "parteiro" da extrema-direita e guru do bolsonarismo
Olavo de Carvalho morreu em Richmond, nos Estados Unidos, aos 74 anos, na madrugada de terça-feira, dia 25, de causas não divulgadas mas apenas oito dias depois de ser internado com covid-19, doença de cuja existência duvidou. Escritor de sucesso e filósofo amador, foi considerado o parteiro da nova extrema-direita do Brasil, epíteto de que se orgulhava, e chamado de guru de Jair Bolsonaro, uma ideia a que resistia.
Ao longo da vida, foi jornalista, astrólogo, muçulmano místico, católico fervoroso, militante comunista e convicto anticomunista, até se tornar, a partir de 2015, um dos maiores influenciadores digitais da extrema-direita brasileira. Em aulas e cursos de filosofia ministrados online, apesar de não ter formação na área, Olavo discorria sobre "marxismo cultural", a tese de que a esquerda dominava universidade, comunicação social e cultura, e chegou a criticar cientistas como Isaac Newton, "o disseminador do vírus da burrice na Terra".
Naturalmente controverso e agressivo nas suas exposições, suscitou, com o seu desaparecimento, reações distintas no mundo político brasileiro.
"Nos deixa hoje um dos maiores pensadores da história do nosso país, o filósofo e professor Olavo Luiz Pimentel de Carvalho. Olavo foi um gigante na luta pela liberdade e um farol para milhões de brasileiros. Seu exemplo e seus ensinamentos nos marcarão para sempre. Que Deus o receba na sua infinita bondade e misericórdia, bem como conforte sua família", escreveu Jair Bolsonaro nas suas redes sociais.
"Aqui na Terra seus livros, vídeos e ensinamentos permanecerão por muito tempo ainda", reagiu o deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente brasileiro.
Para o vereador Carlos Bolsonaro, irmão de Eduardo, Olavo foi "grande influência". "Muitas lições e até mesmo críticas (sempre com a melhor das intenções) nos ajudaram a refletir e a crescer".
Dissidente do bolsonarismo, o deputado e ex-ator Alexandre Frota disse sentir "zero emoção" com a partida de Olavo. "Morreu o ideológico guru Olavo de Carvalho, a informação foi confirmada nas famigeradas redes sociais, que ele tanto usou para atacar, criar problemas e fake news". Segundo Frota, "Olavo não tomou a vacina, não usava máscara e afirmava não existir a pandemia da qual morreu".
Heloísa Carvalho Arribas, filha de Olavo mas de relações cortadas com o pai, também se pronunciou. "No dia que o Olavo publicou que não havia uma só morte por covid no mundo, perdi uma querida amiga pela doença. Olavo morreu de covid. Não tem como eu sentir grande tristeza pela morte dele, mas também não estou feliz".
O jornalista Joaquim Carvalho, autor do documentário Fakeada, que questiona a veracidade do atentado contra Bolsonaro antes das eleições de 2018, lembrou que o escritor "era militante antivacina, não só contra o coronavírus". "Lamento a morte dele, como lamento a de qualquer pessoa, mas lamento muito mais aquelas que foram vítimas dos seus equívocos e manipulação".
Na última aparição pública, a 21 de dezembro, Olavo de Carvalho chamou Bolsonaro de "fraco" e considerou as eleições de outubro "uma briga perdida". A seu lado estavam os alunos e ex-ministros Abraham Weintraub e Ricardo Salles, ambos demitidos do governo por Bolsonaro.