Oito em cada 10 medicamentos em rotura no mercado são genéricos, uma situação que condiciona o acesso das populações à saúde e impacta negativamente os custos suportados pelos doentes e pelo SNS, alertou este sábado a associação do setor..Até sexta-feira, estavam temporariamente indisponíveis no mercado 1.214 apresentações de medicamentos (um medicamento pode ter várias apresentações que correspondem a diferentes dosagens e tamanhos de embalagens), dos quais 957 (79%) são genéricos, segundo números avançados à agência Lusa pela Associação Portuguesa de Medicamentos Genéricos e Biossimilares (APOGEN) baseados em dados da autoridade nacional do medicamento (Infarmed)..Dos medicamentos (apresentações) que foram descontinuados em 2022, 67% eram genéricos, segundo os dados avançados pela associação, a propósito dos 31 anos do início da comercialização dos genéricos em Portugal, assinalados este sábado.."Neste dia apelamos a que sejam criadas condições que assegurem a disponibilidade destas tecnologias de saúde mais acessíveis para a população. É necessário criar um consenso que permita um equilíbrio entre a sustentabilidade da despesa em saúde com a competitividade e atratividade da indústria farmacêutica que investiga, desenvolve, produz e comercializa medicamentos genéricos a bem dos portugueses", defendeu a presidente da APOGEN, Maria do Carmo Neves..Para Maria do Carmo Neves, "há um caminho grande" que é preciso fazer em termos da sustentabilidade da indústria: "Os preços são muito baixos e, como muito baixos, nós assistimos a roturas de medicamentos"..A responsável disse à Lusa que "muitas vezes têm um eco maior" porque são moléculas de uso muito comum, como o paracetamol (analgésico), a amoxicilina com clavulanato (antibiótico) ou o propranolol (para a hipertensão) que faltam.."Mas faltam muito mais do que estes produtos", lamentou, considerando esta "uma situação problemática" para o utente, porque pode deixar de aderir à terapêutica e agravar os seus quadros clínicos, e para o Estado porque ficam no mercado as moléculas que têm um preço mais elevado e que são sustentáveis..Maria do Carmo Neves defendeu uma revisão anual de preço para "os produtos que têm preços muito baixos", no mínimo de acordo com a inflação, e para os que têm preços mais baixos que seja até acima da inflação para poderem entrar no mercado..No ano passado, lembrou, "houve um aumento de 5% para estes medicamentos, mas foi nitidamente insuficiente", disse, elucidando que, neste momento, há muitas moléculas que são fabricadas em que o custo de fabrico é superior ao custo de venda ao público..Segundo a responsável, há medicamentos que deixam de existir porque "as empresas não comercializam aquilo que lhes dá margens negativas". Portanto, acrescentou, "a sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde e do cidadão passam pela sustentabilidade destas empresas fornecedoras"..Segundo dados da APOGEN, os medicamentos genéricos permitiram uma poupança de 7 mil milhões de euros em 20 anos..Este ano, até este sábado, foram poupados 262 milhões de euros com a dispensa de medicamentos genéricos para o SNS e para as famílias portuguesas, segundo dados do Centro de Estudos e Avaliação em Saúde e do contador 'online' no 'site' da APOGEN..A quota de mercado dos genéricos ultrapassou, pela primeira vez, a barreira dos 50%, mas, alertou este sábado a presidente da Associação Portuguesa de Medicamentos Genéricos e Biossimilares (APOGEN), ainda persistem "ineficiências que impedem uma maior adoção" destes fármacos..No dia em que se assinalam os 31 anos do início da comercialização dos medicamentos genéricos em Portugal, a presidente da associação, Maria do Carmo Neves, adiantou à agência Lusa que a quota de mercado destes fármacos estava nos 51,2%, segundo dados conhecidos esta semana.."Há vários anos que estamos praticamente estagnados, vimos de 48%, 49%, e com muita dificuldade em aumentar esta quota", disse, referindo que têm desde 2014 o objetivo de atingir no mínimo os 60&, porque "o nível de adoção dos medicamentos genéricos é um indicador de qualidade de um sistema de saúde".."Temos várias propostas em cima da mesa para que isso possa acontecer e vamos ver se conseguimos, para já, chegar aos 60%", declarou..Maria do Carmo Neves defendeu que a opção por genéricos "liberta recursos para as famílias e para o sistema de saúde beneficiando a sociedade", realçando que "países mais desenvolvidos, com populações com maior poder de compra e mais literacia em saúde apresentam maiores quotas de mercado" destes medicamentos, como o Reino Unido e a Alemanha com 85% e 83%, respetivamente.."Portanto, temos ainda um longo caminho", mas, defendeu, "um uso adequado" destes medicamentos permite "um maior acesso, uma maior equidade, uma maior sustentabilidade e, com isto, o Ministério da Saúde pode conseguir introduzir a inovação que todos precisamos dela para satisfazer as necessidades médicas ainda não preenchidas"..Maria do Carmo Neves defendeu que é preciso ter a noção do que são estes medicamentos e "acabar com o estigma que os medicamentos genéricos são para pobres", exemplificando que a Inglaterra introduziu como indicador de qualidade a adoção dos genéricos no sistema de saúde..O relatório de 2022 sobre a pobreza e exclusão social em Portugal identifica que 22,4% da população portuguesa está em risco de pobreza ou exclusão social e cerca de 2,5% dos trabalhadores por conta de outrem tinham um rendimento por adulto equivalente ou inferior a cerca de 370 euros.."Isto é muito perturbador. Temos que tratar na criação de riqueza e a indústria da saúde, nomeadamente a dos medicamentos, e a indústria que nós temos nacional é criadora de riqueza em termos de exportação", defendeu.