Oficiais lamentam demissão de chefe do Exército e criticam atitude do ministro

Oficiais consideraram "lamentável" a forma como o ministro da Defesa lidou com as afirmações do subdiretor do Colégio Militar
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A Associação de Oficiais das Forças Armadas considerou hoje "lamentável" a forma como o ministro da Defesa lidou com as afirmações do subdiretor do Colégio Militar que levaram à demissão do Chefe do Estado-Maior do Exército.

O pedido de demissão do Chefe do Estado-Maior do Exército (CEME), general Carlos Jerónimo, ocorreu na semana passada e dois dias depois de o ministro da Defesa Nacional lhe ter pedido um esclarecimento a propósito de afirmações do subdiretor do Colégio Militar ao jornal Observador sobre discriminação dos alunos homossexuais.

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Em declarações feitas hoje à agência Lusa, o presidente da Associação de Oficiais das Forças Armadas (AOFA), coronel Pereira Cracel considerou a atitude do ministro da Defesa Nacional "institucionalmente incorreta".

"Não agiu da melhor forma. No decorrer do processo havia outras formas de abordar a questão e efetivamente o político é o Sr.. ministro (...). As coisas podiam resolver-se de outra forma, não é vir para a praça pública com um comunicado em jeito de puxão de orelhas", disse.

No entender do Pereira Cracel, o ministro da Defesa poderia ter assumido "outra postura para evitar um desfecho como o que aconteceu", ou seja, a demissão do chefe do exército.

"Olhando para o que foram os factos e como foi encarado, o Sr.. ministro não esteve nos melhores dias", sustentou.

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O responsável disse à Lusa que a associação foi aprofundar a notícia dada pelo Observador, tendo concluído que o contexto das declarações em causa é o contexto de internato.

"Efetivamente, o que se percebe é que naquele contexto, que é o contexto de internato, ele [subdiretor do Colégio Militar] diz que os afetos têm de ser geridos. Em matéria de sensibilidade, as regras estabelecidas sobre manifestação de afetos são para homossexuais e heterossexuais. É proibida a manifestação de afetos ", salientou.

No entender do presidente da AOFA, não há discriminação nas declarações do subdiretor do Colégio Militar.

"Admitimos contudo que a forma como o disse pode fazer incorrer em erro de interpretação, que pode levar a uma leitura enviesada e que resulta em consequências, que levaram a que a interpretação se relacione com uma ofensa à constituição", disse.

Na opinião do coronel, "independentemente da gravidade e de quem é o intérprete, o que está em causa é o chefe de Estado Maior de um ramo das forças armadas, que não são propriamente uma repartição em Freixo de Espada à Cinta".

"Sem desprimor para Freixo de Espada à Cinta, o que queremos dizer é que se trata de uma estrutura fundamental e pilar da afirmação do Estado. Não é assim que se tratam as Forças Armadas nem o chefe do Estado-maior e, por via dele, o Exército", sublinhou.

Numa reportagem publicada na sexta-feira pelo jornal 'online' Observador, o subdiretor do Colégio Militar, tenente-coronel António Grilo, afirmou: "Nas situações de afetos [homossexuais], obviamente não podemos fazer transferência de escola. Falamos com o encarregado de educação para que perceba que o filho acabou de perder espaço de convivência interna e a partir daí vai ter grandes dificuldades de relacionamento com os pares. Porque é o que se verifica. São excluídos".

Ouvido pelo DN, na sequência destas afirmações, o Ministério da Defesa fez saber que pediu explicações ao CEME e considerou "absolutamente inaceitável qualquer situação de discriminação, seja por questões de orientação sexual ou quaisquer outras, conforme determinam a Constituição e a Lei".

Ainda na semana passada, o ministro da Defesa Nacional, Azeredo Lopes, anunciou que tinha iniciado os procedimentos adequados visando a substituição do general Carlos Jerónimo, que pediu a exoneração do cargo de Chefe do Estado-Maior do Exército.

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