OE2023. "Governo está a ir mais longe do que muitos pensariam"
"Olhando para o orçamento do ano que vem, o Governo vai mais longe do que muitos esperariam, daquilo que se conhece, porque ainda não se conhece o Orçamento. Mas, daquilo que foi sendo anunciado, [vai] muito mais longe do que se esperaria", afirmou Marcelo Rebelo de Sousa.
O Presidente da República falava aos jornalistas em Nicósia, pouco depois de ter chegado a Chipre, onde irá iniciar uma visita oficial no sábado.
Segundo o chefe de Estado, o Governo está a ir mais longe do que se esperaria "para tentar acompanhar minimamente a inflação e para tentar, de alguma forma, corresponder a problemas sociais que existiam: desagrava um bocadinho nos impostos, sobe nos salários, quer nos salários públicos, quer na previsão do acordo de rendimento quanto a salários privados".
"Para aquilo que seria uma visão de muito rigor financeiro, vai mais longe do que [esperado]. Agora, é evidente, para aquilo que são as expectativas de muitos portugueses, ou as necessidades de muitos portugueses, é evidente que, em Portugal como um pouco por toda a parte, se sente que se fica sempre longe da expectativa das opiniões públicas", sublinhou.
O Presidente da República considerou que, se as previsões económicas do Governo se concretizarem, não existirá o nível de tensão social esperado, e previu que até janeiro se saberá se o executivo "acertou em cheio" ou não.
"Se o cenário [económico] não for tão mau quanto muitos previam e puder ser uma subida progressiva da economia e uma aterragem da inflação, aí penso que as consequências sociais -- que inevitavelmente haverá sempre, na vida de toda a gente -- não terão a conflitualidade e a tensão que teriam de outra maneira", afirmou Marcelo Rebelo de Sousa em Nicósia, pouco depois de ter chegado a Chipre, onde irá iniciar uma visita oficial no sábado.
Segundo o jornal Público, o Governo, para o próximo ano, projeta um crescimento de 1,3%, um défice de 0,9% e uma inflação de 4%, assistindo-se também a uma redução da dívida para 110,8% do Produto Interno Bruto (PIB).
Marcelo Rebelo de Sousa admitiu que as previsões do Governo são melhores do que o próprio e "porventura do que esperavam muitos portugueses, dentro do clima de crise geral" que Portugal está atualmente a viver.
"Se o cenário macroeconómico fosse aquele que eu admiti que pudesse vir a ser, isto é com um produto a não crescer, ou até a decrescer, com um problema complicado de emprego, e com um problema complicado de inflação -- continuar ou acelerar a subida de preços -- eu penso que aí, a tensão social podia subir, como noutros países tenderá a subir", referiu.
Segundo o Presidente da República, "novembro, dezembro, janeiro, serão uma espécie de barómetro" que permitirá ver "em qual das duas direções é que vai seguir a economia e vai seguir o nível de preços".
"Quando chegarmos a fevereiro ou março, já teremos uma noção exata se o cenário macroeconómico [do Governo] aceitou em cheio, ou não acertou porquê? O que é que se passou, melhor ou pior, na vida económica e no nível de preços?
O Presidente da República vai receber os partidos com assento parlamentar na próxima quarta-feira, em Belém, após a entrega, na segunda-feira, da proposta de Orçamento do Estado para 2023 na Assembleia da República.
Em declarações aos jornalistas à chegada a Chipre -- onde irá dar início, no sábado, a uma visita oficial de dois dias -- Marcelo Rebelo de Sousa foi questionado se, uma vez que cancelou o programa que tinha previsto para domingo em Limassol, no sul do país, pretende chegar mais cedo a Lisboa para estar "tranquilo" no dia da entrega do Orçamento do Estado.
"É evidente que, assim como o senhor primeiro-ministro me comunicou o cenário macroeconómico, eu gostarei de saber com tempo o que se passa no orçamento, porque vou receber os partidos na quarta-feira. E, portanto, recebendo os partidos no dia 12, acho que é prudente no dia 10 e no dia 11 estar atento à lição e estudar bem a lição para saber o que é que vou ouvir e como é que vou ouvir os vários partidos", respondeu Marcelo Rebelo de Sousa.
O Presidente da República sublinhou ainda que o cancelamento da sua deslocação a Limassol se prende com uma "razão prática", designadamente o facto de que iria participar na cerimónia de abertura da "Maritime 2022 Conference", que estava prevista para as 21:00 (19:00 de Lisboa), mas tinha o "risco de deslizar".
"Havia o risco de deslizar, o que é natural, porque era um grande encontro, um grande congresso de armadores. Chipre é um centro fundamental em termos da importância do 'shipping', isto é da atividade marítima em termos de transportes e de comércio. E esse deslizar tinha problemas depois em termos de transporte para Lisboa, a tempo de poder cumprir compromissos", referiu.