O governo vai iniciar esta semana conversas com os partidos à esquerda do PS e com as duas deputadas não inscritas para ver se resolve o imbróglio do Orçamento do Estado para o próximo ano (OE 2022). A garantia foi avançada à Lusa por uma fonte do governo..De acordo com o mesmo interlocutor, o Executivo vai pedir ao Bloco de Esquerda que envie os termos para um acordo escrito. Esse acordo já tinha sido reivindicado pelo BE e agora o governo pede que os bloquistas formalizem a proposta. "Na sequência das declarações que fizeram nesta semana dirigentes do BE sobre o acordo escrito, o governo solicitou ao BE que envie o conteúdo e os termos do que entende ser este acordo escrito", disse fonte governamental..O Bloco respondeu de imediato com uma nota publicada no site Esquerda.net recordando que "o único dado novo dos últimos dois dias é que passaram mais dois dias sem que o governo desse resposta relevante aos nove pontos negociais propostos pelo Bloco de Esquerda no início de setembro"..Ou seja: "O governo conhece bem os nove pontos negociais apresentados pelo Bloco de Esquerda" e esses pontos até "decorrem de iniciativas legislativas anteriores que o PS rejeitou". Dito de outra forma: "O Bloco de Esquerda já indicou, publicamente e em reuniões com o governo, o âmbito e alcance desses pontos negociais. É também público que o governo não considerou estas questões na proposta do OE 2022 nem deu depois disso qualquer indicação de aproximação negocial relevante.".Contudo, "face à ausência de novas redações legislativas do governo para a inclusão destes pontos na Lei do Orçamento, o Bloco de Esquerda tomará a iniciativa de enviar ao governo propostas do articulado destes pontos". Em suma: "O âmbito deste processo foi sempre claro para ambas as partes: a procura da convergência para a viabilização do Orçamento do Estado e de medidas legislativas a tomar em 2022 que promovam a recuperação económica e social. Nada mais e nada menos.".A primeira votação do OE 2022 na generalidade está marcada para dia 27 - e, para já, a proposta está chumbada. Neste momento, pelos anúncios já feitos, a proposta tem apenas 108 votos a favor (os do PS). Contra regista 79 do PSD, 19 do BE, 10 do PCP, cinco do CDS, dois do PEV (ontem anunciados), um do Iniciativa Liberal e outro do Chega, ou seja, 117 contra. Está chumbada mesmo que os cinco deputados que dizem ter ainda as opções em aberto - os três do PAN e as duas deputadas não inscritas - não se juntem ao voto contra. É por isso decisivo para a aprovação da proposta que ou o BE ou o PCP (ou ambos) mudem o sentido de voto . O Orçamento atualmente em vigor foi aprovado só com os votos a favor do PS. Abstiveram-se o PCP, o PAN, o PEV e as duas deputadas não inscritas, o que viabilizou a proposta. PSD, BE, CDS-PP, Chega e IL votaram contra..A novidade deste ano é que, à ameaça de voto contra do BE, junta-se agora também a do PCP e a do PEV. "Com este silêncio do governo, dá ideia de que isto é para morrer", dizia no sábado o deputado do PEV José Luís Ferreira. O "silêncio", aparentemente, acabou..joao.p.henriques@dn.pt