Foram lançados, nos primeiros nove meses do ano, concursos de obras públicas no valor total de 1,180 mil milhões de euros, o que representa um crescimento de 19% face aos 990 milhões de euros concursados em igual período do ano passado. Em contrapartida, as obras efetivamente adjudicadas não vão além dos 476 milhões, uma queda homóloga de 2%. O diferencial entre concursos promovidos e contratos celebrados é de 704 milhões de euros, o "pior registo dos últimos três anos", garante a AICCOPN, a Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas, e cujo presidente, Reis Campos, lamenta a falta de investimento público, "fundamental para recolocar Portugal na rota do crescimento e da criação de emprego"..No global, os contratos celebrados entre janeiro e setembro totalizam 929 milhões de euros, o que corresponde a um acréscimo de 4% face aos mesmos nove meses de 2015. Mas há que ter em conta que quase 41% deste valor se prende com ajustes diretos, que cresceram 14% para 378 milhões de euros. Isto quando, já no ano passado, os contratos de obras públicas celebrados por ajuste direto haviam crescido 11% até setembro e totalizaram, no final do anos, 454 milhões: "Foi o pior ano de que há registo desde o início desta série, em 2011", avalia a AICCOPN..E a que se deve o aumento consecutivo de adjudicações de empreitadas em regime de ajuste direto? "É a prova de que só estamos a fazer obras públicas de pequena dimensão", diz Reis Campos, que lembra que a legislação permite o ajuste direto em caso de empreitadas de valor inferior a 150 mil euros..A associação reconhece que o setor inverteu, no ano passado, a "tendência negativa dos últimos 13 anos", na medida em que o investimento em construção, no país, cresceu 4,1% e o valor acrescentado bruto das empresas de construção aumentou 3,7% face ao ano anterior. Mas é um crescimento assente, essencialmente, no segmento do imobiliário e resultado do investimento privado. "Mesmo com os vistos gold a cair, Portugal é um país que está na moda", diz Reis Campos, que aponta o dedo ao governo e aos ataques fiscais que tem promovido ao setor: "Não só quer taxar mais o alojamento local, como quer "fazer" dois IMI, um para as autarquias e outro para o Estado... e isto não são boas notícias. Era fundamental que, pelo menos, as pequenas e médias empresas industriais pudessem ser preservadas do ataque que está a ser feito ao setor do imobiliário", defende, considerando "fundamental" não abalar a confiança dos investidores..No que ao investimento público diz respeito, Reis Campos sublinha que deve atingir os 3,4 mil milhões de euros neste ano, "o que representa, em termos reais, o pior valor de que há registo" desde 1995, quando o Instituto Nacional de Estatística começou a publicar estes dados.."O setor tinha a expectativa de se consolidar, depois do redimensionamento a que foi obrigado nos últimos 15 anos e, em especial, nos últimos cinco. Mas o Orçamento do Estado proposto para 2017 nada traz nesse sentido e, pelo contrário, revê, em baixa, as previsões de crescimento do investimento de 2016, que o governo calculara em 4,8% e que, afinal, agora estima que sofra uma quebra de 0,7%", sublinha Reis Campos..O presidente da AICCOPN lembra que Portugal é o "terceiro país da União Europeia com o nível mais baixo de investimento público", só ultrapassado por Chipre e Irlanda, países onde, em 2015, o investimento público correspondeu a 1,9% e a 1,8% do respetivo produto interno bruto. Em Portugal, este valor foi de 2,2% do PIB, bem longe dos 2,9% de média da União Europeia e dos 2,7% da zona euro.