Obras no Brasília prometem nova vida ao shopping mais antigo do Porto

Abriu portas em 1976 e, desde então, as intervenções foram apenas "para resolver problemas". A requalificação vai deixar o icónico Brasília mais "moderno" e "capaz de captar clientes mais jovens".
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Nasceu em meados da década de 70 o primeiro shopping da cidade do Porto ou, segundo a administração, "o mais antigo da Península Ibérica". O primeiro com escadas rolantes, com uma sala de cinema (Charlot) com capacidade para mais de 400 espetadores e exibição de filmes da atualidade, com várias discotecas e bares, com as lojas das mais conceituadas marcas e um glamour único à época. O centro comercial tornou-se um fenómeno tão grande que se faziam excursões com clientes de todo o país e de Espanha.

Contudo, a "coqueluche" da Invicta perdeu terreno para os grandes shoppings que começaram a surgir nos anos 90. As lojas foram fechando portas, assim como o Charlot, que chegou a estar em leilão pelas Finanças por um euro, em 2018. Mas, os comerciantes conseguiram manter os negócios e novas lojas foram reabrindo, impulsionadas pelo valor das rendas (entre 50 e os 1200 euros), apesar de estar com apenas 65 a 70% de ocupação. As obras aprovadas pelos condóminos prometem, agora, dar uma nova vida ao Brasília, num investimento de meio milhão de euros, que demorou uma década a "juntar".

"Estamos a falar de 500 mil euros de euros de capital próprio dos condóminos do shopping", conta ao DN, Frederico Pacheco, responsável pelo marketing do Brasília. A requalificação, explica, devia ter começado o ano passado, mas "a pandemia acabou por atrasar o processo". Foram, também, os confinamentos, com as lojas obrigadas a fechar, que levaram a que a taxa de ocupação que rondava os 75 a 80 por cento tivesse uma quebra de 10 por cento. O encerramento forçado tornou-se insustentável para alguns comerciantes. Maria Rodrigues reabriu uma loja três meses antes da pandemia.

"A covid-19 deu cabo do negócio. Neste momento, já só abro a loja das 14h30 às 17h para escoar o stock que tenho porque vou entregar o espaço. Tenho pena. Estive cá há 40 e tal anos quando o Brasília era o único shopping do Porto e não estava à espera de voltar e encontrar uma situação destas", desabafa.

Já Fernando Campos, proprietário da loja Raposy's, mantém o negócio quase desde a abertura do centro comercial. É dos primeiros a abrir a loja de roupa masculina e dos últimos a fechar. "Tinha 18 anos quando vim para cá com o meu tio. Os anos passaram e eu fui aguentando.

Quando cheguei ainda só estava construída a primeira fase do shopping. Aqui estamos numa zona central e as rendas não são do valor dos grandes centros comerciais. Não quero sair daqui. Habituei-me a isto e tenho os meus clientes fiéis. Aqui não há jovens e os meus clientes já vêm à loja há décadas. Alguns até já trazem os netos", afirma. Fernando Campos culpa a falta de vontade em modernizar e investir por parte dos comerciantes que "ganharam muito dinheiro nos primeiros anos do shopping" pela situação atual e espera uma "alavanca para o negócio com as obras que vão fazer".

Ana Paula Santos abriu as portas da sua ourivesaria há quase 45 anos. Um negócio que começou com a mãe e que manteve "apesar das muitas crises" pelas quais passou. "Passamos por algumas crises. Surgiram outros centros comerciais, com outra dinâmica e pujança. Os anos foram maus connosco, especialmente os últimos 15. Ficamos e demos a volta, mas não tem sido fácil. Apesar de haver obras, não vamos voltar ao que já fomos, mas se conseguirmos atualizar-nos podemos voltar novamente ao mercado, até porque nunca deixamos de ser uma referência na cidade", adianta.

A lojista recorda que os clientes têm "uma forte ligação emocional com o Brasília". "São pessoas cuja juventude ficou aqui marcada. Há pessoas que vieram ao cinema pela primeira vez aqui ou que conheceram as mulheres e maridos nas discotecas que tínhamos. Essas pessoas continuam a vir aqui com entusiasmo. Trouxeram os filhos e agora trazem os netos", sublinha. Ana Paula Santos, que chama ao Brasília "a primeira coqueluche do país", acredita num "renascer". "É necessário e vai acontecer. Todos aspiramos essa revitalização", conclui.

Frederico Pacheco adianta que "o objetivo é que as obras estejam concluídas em 2022". Estas incluem a substituição integral de tetos falsos e iluminação de corredores; remodelação das escadas rolantes (guardas e caixas de luz), arranjos no hall central com alteração de escadas; colocação de laje no piso 0; remodelação dos vãos; polimento e vitrificação do pavimento; remodelação das claraboias; renovação dos WC's; um projeto de sinalética; instalação de Wifi nas áreas comuns e instalação de diretórios digitais.

O projeto de arquitetura está a cargo de João Ferros, cujo desafio passa por "fazer com que o Brasília volte a criar sensação". A 9 de outubro de 2022, o Brasília assinalará o 46º aniversário e poderá vir a fazê-lo de "cara lavada" e com muito revivalismo.

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