Durante 12 anos Bernardo Sassetti trabalhou e retrabalhou a peça musical que lhe foi encomendada para acompanhar o filme Maria do Mar (1930), de José Leitão de Barros. Esse trabalho começou no verão de 1998 e uma primeira versão, feita para um agrupamento de câmara, chegou a ser apresentada em março de 2000 na Culturgest, em Lisboa..Nunca plenamente satisfeito continuou a trabalhar nessa peça até esta ganhar uma dimensão bem maior, já pensada para orquestra, tendo gravado a versão definitiva só em 2010, ao lado da Orquestra Sinfonietta de Lisboa, dirigida pelo maestro Vasco Pearce de Azevedo..De forma a assinalar a data do aniversário do pianista (que faria 43 anos), a entretanto criada Casa Bernardo Sassetti juntou-se à Cinemateca Portuguesa para a celebração que ontem se deu no Teatro Nacional de São Carlos, em Lisboa. .Ao longo do seu percurso, Bernardo Sassetti mostrou ser um dos compositores mais empenhados a fazer música para cinema, e esse empenho traduz-se também na extrema sensibilidade em criar uma obra que não é um mero acompanhamento sonoro das imagens, mas que com elas cria uma relação intrínseca. Lembrando esse caso paradigmático que foi Alice, de Marco Martins, filme para o qual o pianista criou a banda sonora, hoje é impossível de imaginar dissociarmos aquela história trágica (protagonizada por Nuno Lopes) das composições minimalistas criadas por Sassetti..O mesmo passa agora a acontecer com Maria do Mar. O piano ouve-se a solo ocasionalmente, mas a peça tem uma dimensão mais próxima da sensibilidade sinfónica. Além da música clássica, são claras as referências a temas de raiz popular portuguesa para dar cor à ficção documental de Leitão de Barros, sobre a vida piscatória na Nazaré das primeiras décadas do século XX. .Ontem no São Carlos a peça foi interpretada pela Orquestra Sinfonietta de Lisboa (dirigida por Vasco Pearce de Azevedo), com Francisco Sassetti ao piano e, em dois momentos particulares, Filipa Pais na voz.