Numa altura em que a taxa de desemprego na América chega aos 14 por cento, a chegada de uma nova administração a Washington pode ser uma esperança para muitos americanos à procura de trabalho. A mudança de Bush da Casa Branca para o seu rancho no Texas vai abrir cerca de oito mil vagas de emprego no Governo federal, de acordo com um inventário recentemente publicado em livro..Mas há um problema: o processo de selecção para se chegar à futura administração de Barack Obama invade a esfera privada dos candidatos aos novos empregos em Washington. Para desencorajar quem tiver telhados de vidro ou quem goste demasiado de revelar segredos..O New York Times teve acesso ao questionário de sete páginas que a equipa do presidente-eleito está a enviar a todos os que querem fazer parte do Executivo que entra em funções a 20 de Janeiro, e deu o seu veredicto: para trabalhar com Obama é "preciso vasculhar o baú de recordações e não encontrar nada comprometedor"..O questionário de selecção inclui 63 perguntas de carácter pessoal e profissional - algumas dizem respeito à vida dos cônjuges e filhos maiores - a que a maioria dos candidatos não saberá responder sem fazer uma viagem ao passado para desenterrar documentos que provam os seus feitos e erros da última década..Do extenso lote de perguntas, só alguns pequenos pormenores são descartados. Por exemplo, não é necessário entregar as multas de trânsito abaixo dos 50 dólares (40 euros). Em contrapartida, pede-se aos candidatos que revelem os seus pseudónimos na Internet e indiquem se são proprietários de armas de fogo..Há décadas que o processo de selecção dos candidatos a cargos no Executivo é pesado e moroso. Cada administração que chega a Washington esforça-se para não repetir erros anteriores e cria sempre novos obstáculos, até para tentar acompanhar as mudanças tecnológicas. .Mas Obama levou o processo a um nível inesperado no seu esforço para livrar a sua equipa da influência dos grupos de pressão que possam condicionar ou ser favorecidos com as suas políticas..O responsável pela equipa encarregue de preparar a transferência de poderes entre Presidentes, John Podesta, já tinha anunciado terça-feira, numa conferência de imprensa, que mesmo para o grupo de transição as regras de selecção serão "drásticas". Ontem, Stephanie Cutter, a porta-voz da equipa de transição de Barak Obama , acrescentou que "o Presidente-eleito está determinado em mudar a forma como funciona [a administração em Washington] e o processo de selecção é o exemplo disso". .Os que ultrapassarem este obstáculo do extenso questionário terão ainda terão de passar sem mácula nas detalhadas investigações do FBI e do Departamento de Ética a seu respeito. Só então poderão ser considerados para trabalhar com o futuro Presidente, num dos milhares de cargos da nova administração.Entre os empregos disponíveis estará o de arquitecto do Capitólio, o de director da Associação de Amizade entre o Japão e os EUA, e o de presidente da comissão de mamíferos marinhos. .Os salários mais altos ultrapassam os 220 mil dólares. O cargo mais modesto é um part-time para investigador do Árctico que receberá só 571 dólares.