Obama para Castro: "Não tema as vozes diferentes do povo cubano"

No último dia de visita a Havana, presidente norte-americano reuniu-se com dissidentes e pôr em prática a "diplomacia do basebol"
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Sob um céu a ameaçar chuva, Dayron Varona aproximou-se da placa do batedor e os restantes jogadores da equipa dos Tampa Bay Rays aplaudiram de pé. Momentos antes, quando o speaker do Estadio Latinoamericano em Havana anunciara o seu nome, a reação dos adeptos tinha sido fria. Nascido em Cuba, Varona fez como muitos outros cubanos e há três anos fugiu de barco para os EUA. Nunca pensou regressar tão depressa à ilha nem fazer parte da "diplomacia do basebol" do presidente norte-americano, Barack Obama.

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Havana e Washington admitem as diferenças, mas se há algo que une cubanos e norte-americanos é o amor pelo basebol. Obama e o homólogo de Cuba não hesitaram a fazer a "onda" como o resto dos adeptos no mítico estádio cubano, engalanado para o regresso de uma equipa da Liga profissional norte-americana à ilha - em 1999, os Baltimore Orioles ganharam por 3-2 o jogo de exibição frente à equipa nacional cubana. Ontem, os cubanos voltaram a perder, desta vez por 4-1.

O jogo de ontem entre a seleção de Cuba e a equipa da Florida foi mais um dos momentos altos da visita de Obama, que durante a manhã disse ter feito esta viagem histórica "para enterrar os últimos vestígios de Guerra Fria nas Américas". No camarote do Grande Teatro Alicia Alonso, a ouvir o discurso do líder norte-americano aos cubanos, estava Castro. "Não deve temer os EUA nem as diferentes vozes do povo cubano", disse-lhe Obama, afirmando em espanhol que "o futuro de Cuba tem de estar nas mãos do povo cubano".

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Antes não poupara as palavras para defender os seus ideais de liberdade: "Acredito que os cidadãos devem ter a liberdade de dizer o que pensam sem medo, de organizar-se e criticar o seu governo e manifestar-se de forma pacífica." Sob escassos aplausos, de uma plateia onde estariam 1100 convidados, Obama defendeu que os cubanos "devem ter o direito de votar livremente no governo". O discurso foi transmitido em direto pela televisão cubana.

[citacao:Não devemos temer a mudanças, devemos abraçá-la]

"Não devemos temer a mudança, devemos abraçá-la", indicou o presidente norte-americano. "Acredito no povo cubano", repetiu em espanhol e inglês. Obama explicou que já pediu ao Congresso dos EUA para levantar o embargo, que considera um "fardo" sobre o povo cubano. "É hora de deixar cair o embargo", defendeu, desta vez aplaudido fortemente pela plateia. "Mas mesmo se deixássemos cair o embargo amanhã, os cubanos não iriam ver alterações sem uma mudança de política aqui em Cuba", lembrou.

Obama deixou também uma palavra aos exilados, falando na dor que estes sentem por ter abandonado "um país que ainda amam" - como Varona que foi recebido em lágrimas no aeroporto pela família que não via há três anos. "Isto não é uma questão de política, mas de família, da memória de uma casa deixada para trás, de esperança por um futuro melhor, esperança por uma mudança em direção à reconciliação", explicou. "O progresso começa com o mútuo reconhecimento da humanidade do outro. É o momento de deixar para trás o passado e olhar para um futuro de esperança", disse Obama, terminando o discurso com um "sí, se puede" e sendo aplaudido de pé.

Encontro com dissidentes

Obama recebeu na embaixada norte-americana em Havana um grupo de dissidentes cubanos. "Quero agradecer a todos os que vieram aqui. Muitas vezes é preciso muita coragem para fazer ativismo em Cuba", indicou. Berta Soler, das Damas de Branco, Elizardo Sánchez, da Comissão Cubana de Direitos Humanos e Reconciliação Nacional, e Guillermo Fariñas, prémio Sakharov 2010 para os Direitos Humanos, estiveram no encontro.

Na véspera, na conferência de imprensa conjunta com Obama, Raúl Castro tinha sido questionado sobre presos políticos em Cuba e pedira que lhe dissessem nomes, para os libertar imediatamente. O Departamento de Estado disse mais tarde ter entregue uma lista de presos políticos ao governo cubano, enquanto o grupo de Elizardo Sánchez dizia que pelo menos uma dúzia de opositores tinha sido detido só na segunda-feira.

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