O veterinário do PCP com "contrato a prazo" para defender as Flores

João Paulo Corvelo, de 35 anos, é o novel deputado regional comunista. Tirou o curso tarde, mas andou sempre na luta política.
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Insiste que está a terminar a tese e o estágio para ser médico veterinário de pleno direito. E a insistência de João Paulo Valadão Corvelo tem razão de ser. Não quer que digam, e repitam, que foi eleito deputado regional pela CDU, o mais votado na ilha das Flores, porque tirou proveito daquela profissão que tanto o aproxima da população rural da ilha.

"A eleição foi fruto de um trabalho desenvolvido ao longo do tempo", afirma ao DN o novel deputado regional comunista, que garante que "faz falta uma voz no Parlamento Regional para defender os florentinos".

Diz que está "feliz" e nada surpreendido por ter tido tamanha votação na ilha de que é filho e onde sempre viveu, uns 32% que deixaram a grande distância os socialistas e os social-democratas que concorreram contra ele.

A vitória ainda está quente, mas o jovem de 35 anos tem o cuidado de destacar que não é dele, nem da CDU, "é de todas as pessoas que andaram na campanha" e que ajudaram no contacto com a população. Tem, aliás, um discurso diferente do costumeiro do partido, o PCP, onde milita desde os 15 anos, depois de ter entrado para a JCP. Diferente porque diz que a maioria dos florentinos não são do PCP ou da CDU, "votaram sim no João Paulo".

Os populares confirmam as suas palavras. O ilhéu Joel Meireles, ligado ao setor da restauração nas Flores, garante que "aqui vota-se nas pessoas" e que João Paulo Corvelo "é um jovem de bem, sabe falar e o que é o trabalho porque era agricultor". Está confiante que será "empenhado no cargo". Outro ilhéu, João Cardoso, também já tinha ouvido dizer que "era bom moço", embora não o conheça. Explicação para a "confiança" que Emília Lima, também ela ligada ao comércio na ilha, diz terem tido no candidato da CDU.

A ilha já tinha demonstrado uma confiança prolongada no tio de João Paulo Corvelo, o histórico do PCP Paulo Valadão, que foi deputado regional durante 16 anos. O sobrinho não se esquece de o mencionar no momento em que lhe sucede na política.

João Paulo Corvelo afirma que "as pessoas estão fartas da pasmaceira e não existirem vozes no Parlamento Regional que se levantem para defender as Flores". Uma ilha do arquipélago dos Açores que diz esquecida e com graves problemas a todos os níveis, da economia, à saúde, à educação, à agricultura, etc.

Dá um pequeno exemplo da falta de condições locais: não há um pediatra para atender as crianças. Ele casado e pai de uma filha com dois anos acha intolerável esta situação. É por este e por outros problemas que vai batalhar na Assembleia Legislativa Regional.

"Dizer que sou político causa-me alguma impressão... Estou com um contrato a prazo para quatro anos, que se não for renovado, volto para casa para fazer o meu trabalho", diz.

De trabalho tem lastro. Começou aos 18 anos a trabalhar na agricultura, mas teve "a sorte" de arranjar um lugar como segurança aeroportuário. Passados cinco anos foi despedido "por ser sindicalista".

Esteve 12 anos sem estudar, depois de ter passado pela Associação de Estudantes da escola secundária onde andou e onde era um "bocadinho revolucionário. Aos 28 anos decide finalmente tirar o curso de Medicina Veterinária em Lisboa. Concluído, regressa às Flores, onde sempre viveu e onde agora será representante do povo.

No domingo festejou a eleição. Foi uma surpresa boa para a CDU, numa noite que não lhe foi assim tão simpática. Foi o próprio coordenador da Coligação nos Açores, Aníbal Pires, que admitiu que o resultado nas eleições regionais "ficou aquém das expectativas", embora tenha frisado que foi possível manter a representação parlamentar. Aníbal Pires, que não foi reeleito deputado por Ponta Delgada, destacou a eleição de João Paulo Corvelo pelas Flores. "Ganhámos um círculo eleitoral ao PS, o círculo eleitoral das Flores e, portanto, quero agradecer a todos os açorianos que depositaram a sua confiança neste projeto político, um projeto de futuro para os Açores".

Nas eleições de domingo, o PS conquistou nova maioria absoluta ao conseguir eleger 30 deputados do total de 57 parlamentares da Assembleia Legislativa Regional. O PSD conseguiu eleger 19 deputados, o CDS quatro, o BE dois, o PCP-PEV um deputado e o PPM também um deputado.

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