O velocista do Sporting de Peseiro que dá aulas de fitness

Douala, antigo avançado dos leões, vive em Saint-Étienne, em França. Vendeu produtos de nutrição e teve escola de futebol. Quer tirar curso de professor e pisca olho à carreira de empresário
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Roudolphe Douala pendurou as botas há pouco mais de dois anos, mas ainda anda às apalpadelas a definir que carreira vai seguir após ter terminado a de futebolista. De volta à cidade francesa de Saint--Étienne, onde cresceu depois de deixar os Camarões natal, tem experimentado várias atividades, sempre com o desporto como denominador comum. "Vendi produtos de nutrição desportiva, tive uma escola de futebol com algumas crianças e agora dou aulas de fitness, mas ainda não tenho curso de professor e quero tirar no próximo ano. Só joguei futebol e agora quero uma coisa fixa", contou ao DN o antigo avançado de 39 anos, que diz estar "mais magro do que quando jogava", e que em Portugal, entre outros, passou por Sporting e Boavista.

A boa forma agora só passeia pelos relvados em jogos informais, "com antigos jogadores do Saint--Étienne, para manter a forma". "O futebol já não é competição, é prazer, e joga-se muito assim em França", aditou, a piscar o olho à carreira de empresário. "Estou a tentar fazer contactos, mas terá de ser em Portugal, onde passei oito anos. Ainda tentei treinar miúdos, mas não quero ser treinador. Empresário, sim", vincou, com saudades do nosso país. "Gostava de voltar a viver em Portugal, mas é complicado, porque os meus filhos estão cá em França", afirmou, um pouco constipado mas bem-disposto e num português bastante razoável.

Mais prazer nos pequenos

O ponto alto da carreira de Douala foi no Sporting, de 2004 a 2006, quando formou uma dupla de ataque bastante móvel ao lado de Liedson. Mas foi ao serviço de clubes mais pequenos que sentiu mais prazer a jogar futebol. "O Sporting deu-me a conhecer ao mundo, mas os clubes pequenos eram diferentes, mais familiares. No Desp. Aves e no Gil Vicente lutávamos para não descer e fazer um golo por estas equipas não era a mesma coisa do que no Sporting. Em Vila das Aves descemos mas tínhamos um plantel espetacular, e em Barcelos fiz uma boa época com Luís Campos e Vítor Oliveira. E também não esqueço a União de Leiria, onde fiz as duas melhores épocas, mas como o clube não tinha nome, não podia sair de lá para Inglaterra", reconheceu o ex-futebolista, que não vingou no clube que o trouxe para Portugal no verão de 1998, o Boavista.

"Estava a disputar um torneio na Suíça pelas camadas jovens do Saint-Étienne e o Boavista também estava lá. Fui eleito o melhor jogador do torneio e contrataram-me. O Jaime Pacheco gostou de mim", recordou, lamentando não ter sido campeão pelos axadrezados. "Era muito novo e tinha peso a mais. Ainda não tinha a experiência necessária e fui emprestado ao Desp. Aves nesse ano. Gostava de ter sido campeão", observou o africano, que disputou 213 jogos na I Liga.

Um arrependimento de 12 anos

Oriundo da U. Leiria, Douala fez uma temporada de bom nível ao serviço do Sporting. Com José Peseiro como treinador foi titular em grande parte dos encontros e marcou oito golos, numa campanha em que os leões lutaram pelo título até à penúltima jornada e chegaram à final da Taça UEFA, perdida em Alvalade para o CSKA. Contudo, nessa memorável campa-nha europeia, deixou impressionados os responsáveis do Middlesbrough, equipa então bastante cimentada na liga inglesa e que os verde e brancos tinham eliminado nos oitavos-de-final. O Boro acenou com oito milhões de euros ao Sporting, mas o jogador quis ficar.

"Recusei porque estava muito bem em Lisboa, já casado. Se tivesse saído nessa altura, poderia ter voltado anos mais tarde, como o Rochemback. Iriam pagar-me muito bem, mas não pensei em dinheiro. Só em bola. Se pudesse voltar atrás, teria ido", revelou, acreditando que a sua carreira poderia ter tido um desfecho diferente.

"Acabámos por ser eliminados na pré-eliminatória da Liga dos Campeões pela Udinese, Camarões não se apurou para o Mundial 2006, José Peseiro saiu e o novo treinador [Paulo Bento] pôs a jogar os jogadores dele. Se tivéssemos passado a Udinese, tinha ficado tudo na mesma. Peseiro tinha o plantel que queria e ganhou os primeiros jogos, mas num mês tudo mudou e começámos a perder constantemente e a entrar em crise. Quando há crise, os jogadores só estão a 50 por cento e os adeptos queriam muito a saída do treinador", lembrou, puxando a cassete atrás.

Um ano depois, voltou a estar perto do Middlesbrough, mas Steve McClaren saiu do comando da equipa e o negócio não aconteceu. Acabou por rumar a Inglaterra, mas pela porta do Portsmouth, clube pelo qual foi pouco feliz. Outra decisão da qual se arrepende: "Não devia ter saído de Portugal."

"Corre Douala, corre!"

Se há característica que os sportinguistas e os seguidores do futebol português em geral recordam de Douala é a velocidade, algo que o próprio reconhece ter sido a sua principal arma. "Era mesmo muito rápido. Também sabia jogar à bola, mas ao ver vídeos antigos digo: "fogo, era mesmo rápido!" Os treinadores diziam-me: "corre Douala, corre!" Era mesmo o mais rápido", lembra o antigo futebolista, que ainda sente o carinho dos sportinguistas. "Os adeptos gostavam de mim e ainda mostram essa simpatia através das redes sociais. O Sporting ficou o clube do meu coração em Portugal", vincou.

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