O último adeus ao rei Bhumibol dura cinco dias e custa 76 milhões
Vestidos de preto e com retratos do rei Bhumibol Adulyadej na mão, dezenas de milhares de tailandeses juntavam-se ontem em Banguecoque no primeiro de cinco dias de cerimónias fúnebres em honra do soberano morto a 13 de outubro de 2016, aos 88 anos e após sete décadas no poder. Para hoje espera-se que mais de 250 mil pessoas assistam à cremação do monarca numa pira real erguida num complexo de pavilhões dourados construído de propósito frente ao Grande Palácio de Banguecoque. A cerimónia é o culminar de um ano de luto pelo rei venerado como um semideus e visto como pilar da estabilidade num país em rápido crescimento económico mas marcado por golpes de Estado e tensões religiosas.
"É esmagador", confessa à Reuters Aporn Wongdee, de 60 anos, que veio do Sul do país até à capital para prestar a última homenagem ao rei Bhumibol. "Estou aqui há dois dias e quero ver o nosso pai ir para o céu", explicou Aporn. Confirmando a sua devoção ao rei Bhumibol, as autoridades tailandesas não olharam a custos para as suas cerimónias fúnebres, que se estima que rondem os três mil milhões de bates - mais de 76 milhões de euros. O funeral - uma cerimónia predominantemente budista mas que terá muitos elementos do hinduísmo - contará com a presença de dirigentes e altos responsáveis de quatro dezenas de países. Nas ruas estarão cerca de 230 mil agentes da polícia para evitar confrontos.
Ontem, o novo soberano, Maha Vajiralongkorn, conhecido como Rama X, chegou ao Grande Palácio de carro, acompanhado pelas filhas, passando junto aos soldados de guarda, de uniformes vermelhos e chapéus pretos. No trono desde dezembro, Rama X só depois do funeral do pai deverá ser coroado. Aos 65 anos, o novo monarca está longe de conseguir a mesma reverência e afeto que os tailandeses dedicavam ao pai. Mais conhecido pela vida de playboy do que pela pose de Estado, Rama X foi educado em colégios privados na Europa e graduou-se como piloto militar no Colégio Militar Real na Austrália.
Em 1977 casou-se com uma prima em primeiro grau, Soamsawali Kitiyakara. Tiveram uma filha, mas o enlace não durou. No final dos anos 70, ainda casado, Vajiralongkorn começou a viver com a atriz Yuvadhida Polpraserth. A relação resultou em cinco filhos. Casaram-se em 1994, mas por pouco tempo. Em 2001, o príncipe herdeiro voltou a subir ao altar, desta vez com uma plebeia que servia na casa real. Nasceu mais uma criança, mas, de novo, a relação acabou. Em 2014, Vajiralong-korn mandou prender vários membros da família da mulher por alegados crimes de corrupção e a princesa Srirasmi abdicou do título real. Estão oficialmente divorciados.
Despedida emocionada
Hoje o corpo de Bhumibol vai ser transferido do Grande Palácio para o crematório real, onde será colocado na pira dourada, com três andares e 50 metros. Milhares de pessoas acamparam junto ao local nos últimos dias, querendo garantir o melhor sítio possível para assistir à cerimónia. Serão três as procissões que vão sair do Grande Palácio para o crematório. Muitos tailandeses levam com eles flores de sândalo para a cremação, acreditando que estas guiam a alma do morto até ao céu.
Feriado nacional, no dia da cremação os transportes são grátis na capital, onde bancos e muitas lojas estarão fechados. Os locais turísticos continuam abertos, mas as autoridades pediram a todos os visitantes que usem roupas apropriadas e tenham comportamentos respeitosos. Para quem não conseguiu ir a Banguecoque, foram construídas 85 réplicas do crematório real pelo país.