O totalitarismo vivido no quotidiano
Título: 'Barbara'
Realização: Christian Petzold
Com: Nina Hoss, Ronald Zehrfeld, Rainer Bock
Distribuição: Leopardo Filmes
Classificação: 3 / 5
República Democrática Alemã, anos 80. Barbara Wolff , uma médica pediatra, é punida com a transfência de uma boa posição em Berlim para um hospital de província na costa do Báltico, após ter ousado pedir um visto para emigrar para a RFA, onde vive o namorado. Mesmo aí, Barbara continua sob vigilância da Stasi, que a submete a controlos inesperados e humilhantes na rua e em casa, incluindo buscas físicas. Mesmo assim, a médica consegue estar clandestinamente com o namorado, sempre que este passa a fronteira em trabalho, e receber dinheiro e géneros apenas ao alcance da nomenklatura comunista. E planeia fugir para o Ocidente quando o namorado tiver tudo planeado.
Mas Barbara sente-se próxima de um colega simpático e compreensivo, que poderá ou não ser também um informador da Stasi, e preocupa-se muito com os seus pacientes, um dos quais é uma adolescente desesperada e grávida, detida num campo de trabalho por ser "antissocial". O legítimo anseio de liberdade de Barbara colide, desta forma, com o seu agudo sentido do dever e a sua preocupação com os outros.
O alemão Christian Petzold, autor de Fantasmas (2005), Yella (2007) e Jerichow (2008), volta a dirigir a excelente Nina Hoss em Barbara (escrito com a colaboração de Haroun Farocki) nesta história sobre o totalitarismo comunista vivido no quotidiano e a forma como ele se manifesta através de uma sucessão de proibições, intimidações e atos de atemorização, numa história livre de tiradas ideológicas e ganga melodramática. Premiado com o Urso de Prata de Melhor Realização no Festival de Berlim, Barbara é um retrato lacónico, subtil e inteligente de uma sociedade fechada e repressiva, onde se vivia sob uma suspeição permanente que constrangia e envenenava as relações entre as pessoas.