O slogan está aí de novo, exposto nas ruas, espalhado nas redes sociais, pronto a ser usado e replicado, para cair no goto dos cidadãos e melhor passar a mensagem política de cada candidato e partido. O slogan ainda é uma arma, disparada com mais ou menos eficácia, concorda António Costa Pinto, politólogo, investigador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. "O slogan, quer em termos de publicidade, quer em termos de propaganda política, quer em termos de campanha eleitoral, continua a ter um enorme impacto, independentemente do suporte usado", anota o professor universitário. Não há como enganar: há slogans que permanecem, frases que ficam. Costa Pinto recorda dois, um de uma campanha institucional - "Há mar e mar, há ir e voltar" -, outro de uma campanha política, a de François Mitterrand para as presidenciais francesas, com a frase "A força tranquila". Muitos outros exemplos se multiplicariam. Em 1976, no congresso do PCTP/MRPP, Arnaldo Matos remata o seu discurso com vivas à classe operária, ao comunismo, ao marxismo-leninismo, ao MRPP, ao PCTP. E repetem-se outras palavras de ordem: "Morte aos traidores! Morte aos renegados! Morte aos traidores! Morte aos renegados! Morte aos traidores! Morte aos renegados!" Em 2015, o partido que apresentava Garcia Pereira como cabeça-de-lista em Lisboa e tinha Arnaldo Matos na sombra a aconselhar e a dar ordens repete a palavra de ordem de 1976: "Morte aos traidores!" - por causa do euro, em defesa de "um escudo novo". Com queixas na Comissão Nacional de Eleições, o comité central do partido antecipou-se e ordenou "a eliminação da palavra de ordem 'Morte aos Traidores' de toda a sua propaganda eleitoral". Com um aviso aos "traidores": "Claro que esta decisão não terá o mérito de salvar os traidores do opróbrio e da morte certa que os espera.".O slogan é pois uma arma. Também nos dias de hoje, em que a informação acelera e as redes sociais amplificam as palavras, com slogans transfigurados em hashtags, como se fossem gritados em comícios. "Do ponto de vista visual e discursivo", aponta Costa Pinto, "o slogan é uma ideia expressa numa palavra ou em várias, destina-se a passar essa ideia". Com o objetivo declarado de ter "sempre" uma "enorme eficácia". Que tanto "pode ser positiva como negativa", acrescenta. Os partidos apostam a sério nesta preparação. Para o professor universitário, as campanhas "são altamente profissionais", "não são feitas só com ativismo". Criam-se dinâmicas próprias, acertam-se agulhas, pensa-se na mensagem a passar para fora e em meios internos.."Os públicos reagem por motivos diferentes" às mensagens dos partidos, reconhece Ana Rita Bessa, que dirige a campanha do CDS para as eleições legislativas. "As pessoas não têm muito tempo nem capacidade para se adensar nas mensagens. E é mais difícil impormos palavras de ordem mais agressivas, não estamos nesse tempo.".Para Jorge Costa, que desempenha idênticas funções no BE, "o slogan é a forma de uma organização política definir o seu posicionamento e a sua postura perante os eleitores". Para o deputado, que tem formação em comunicação social, "não há nenhum slogan que construa uma linha política, pode condensar uma ideia, definir uma forma com que pretende relacionar-se com o eleitorado". Longe do tempo em que o autocolante era um veículo de passagem dessas mensagens, multiplicado por muitos nos anos seguintes ao 25 de Abril, que cairia em desuso sobretudo a partir da década de 1990 e que é hoje praticamente objeto de colecionismo. Agora, o slogan imprime-se em outdoors e mupis, reproduz-se em 140 caracteres no Twitter, em posts no Facebook ou numa imagem do Instagram. Os partidos estão atentos a tudo isto: "No CDS", exemplifica Ana Rita Bessa, "pretendemos propagar a ideia de que somos alternativa ao governo, por isso declinamos essa mensagem em lógicas diferentes", dependendo da rede social onde se espalha a palavra. "É preciso ser muito eficaz na mensagem a passar, já passou o tempo em que era preciso demorar-se na mensagem", defende. Costa Pinto aponta um exemplo que vai em linha contrária: o cartaz de um partido novo, a Iniciativa Liberal, que replica uma frase longa de Fernando Pessoa sobre o liberalismo. No fundo, é uma mensagem que "destina-se a um público mais letrado, mais culto". "O ponto fundamental", acrescenta, "é a sua introdução no inconsciente coletivo". "Quanto mais eficaz, mais fica na memória", argumenta, "independentemente de mobilizar o voto" dessas pessoas. O Bloco de Esquerda joga, por exemplo, em simultâneo com as características pessoais e políticas da sua cabeça-de-lista às europeias para sublinhar a empatia e a mensagem de alguém que se coloca "lado a lado das pessoas". É uma mensagem política que potencia as referidas características de Marisa Matias. Nenhum partido abdica de outdoors e mupis: apesar de passarmos todos apressados, há aquele instante em que fixamos a mensagem, a frase que nos querem dizer. "O slogan enquanto protagonista de uma mensagem simples permanece", resume Costa Pinto. E essa mensagem é acompanhada de uma mensagem visual, "potenciando e diversificando assim a sua mensagem". O slogan é ainda uma arma.