O seu ego é o maior inimigo da sua liderança
Ser líder é uma atividade de uma exigência tremenda. Contudo, muitas vezes, a função vem associada a regalias contratuais totalmente desnecessárias ao seu exercício. São exemplos disto o gabinete maior com a melhor vista, as viagens em executiva, ou o motorista à porta num carro de luxo. Estas regalias servem somente para sinalizar aos restantes colaboradores o poder, a influência e a importância do chefe dentro da empresa, e a sua superioridade face aos demais.
Ao criar uma distinção entre o chefe e os restantes colaboradores, o usufruto público destas excentricidades contratuais cria também um fosso comunicacional entre ambos. Simultaneamente, reforçam o ego do chefe, tornando-o incapaz de (re)conhecer os colaboradores que carregam o dia a dia da organização, e o que estes pensam sobre o que fazem. E quanto mais cresce esse ego, maior o risco de o chefe acabar numa bolha, isolado, sem noção dos desafios diários da organização. Não sendo capaz de medir o pulso à organização, nenhum chefe consegue liderar de forma eficaz.
O poder e influência associados à subida na hierarquia da organização faz com que os colaboradores estejam mais propensos a agradar o chefe, a mostrar disponibilidade para o ouvir, a concordar mais com as suas ideias e a rir das suas brincadeiras. Tudo isto afaga o ego do chefe, promovendo o seu reforço e crescimento. Com o tempo, o líder pode desenvolver uma perturbação de posse de poder associado a um sucesso elevado atingido ao longo de um período de anos.
Um ego descontrolado pode torcer os valores de um líder e deformar a sua perspectiva da realidade. É, por isso, da maior importância que um líder mantenha o controlo do ego por dinheiro, protagonismo e influência. Quando apanhado na ânsia de alimentar o seu ego pela obtenção de mais poder, o líder perde imediatamente poder. O seu ego pode torná-lo vulnerável à manipulação, reduzir a sua percepção sobre os problemas ao redor, corromper o seu comportamento, e fazê-lo agir contra os seus valores. O seu ego é como um alvo que traz consigo às costas: quanto maior a sua dimensão, maior a probabilidade de ser atingido e sofrer danos na sua liderança. O líder torna-se previsível, e os colaboradores, ao saberem disso, podem utilizar o ego do seu chefe em seu próprio benefício. Quando o líder é vítima da sua própria necessidade de ser visto como grande, acaba por ser levado a tomar decisões que podem ser prejudiciais para ele próprio, para os seus colaboradores e para a sua organização.
Um ego carente de reforço positivo limita a visão do líder, determinando uma permanente procura por informações que sustentem aquilo que quer acreditar, induzindo uma forte tendência para a confirmação. O líder de ego carente corre o risco de perder a perspectiva e acabar numa bolha de liderança, onde só vê e ouve aquilo que quer e precisa.
Quando o líder acredita que é o grande e único arquiteto do seu sucesso, tende a ser mais rude, egoísta e propenso a interromper os outros. Isto é especialmente evidente na gestão do contraditório e na aceitação da crítica. A necessidade de reforço permanente do seu ego impede o líder de aprender com os seus erros e com os outros, criando um muro à sua volta que o impede de ir mais além.
Para evitar entrar numa bolha de liderança, o líder deve ser altruísta, corajoso e possuir uma elevada capacidade de autorreflexão. Só assim poderá libertar-se de um ego demasiado protetor ou carente de reforço positivo. O líder deve rever as regalias e privilégios que lhe foram oferecidos, e prescindir daquelas que servem apenas para promover o seu estatuto, poder e ego. O líder deve recrutar e trabalhar de perto com pessoas inteligentes, intelectualmente independentes, que tenham a coragem de lhe dizer o que pensam (e não o que ele pensa). O líder deve cultivar em si o altruísmo pela humildade e gratidão. Deve criar o hábito de refletir sobre os seus colaboradores e as suas ações, a forma como estas permitiram-lhe tomar melhores decisões e melhorar o rendimento da organização, e enviar-lhes, proativamente, uma mensagem de gratidão.
Diretor-executivo de educação online da Nova SBE Executive Education