O Santo que se transformou em 007 até ficar gordinho

Completaria 90 anos em outubro mas uma conjugação de doenças desde 2013 ditou que a palavra fim aparecesse no filme da sua vida.
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O ator Roger Moore surgiu para os espectadores televisivos portugueses como o protagonista de O Santo, uma série onde funda o seu perfil de sedutor, que culminará por se fixar eternamente no papel mais importante e duradouro no cinema: 007. O famoso agente britânico James Bond em que ganhou cor e chega a todo o mundo, ultrapassando em fama qualquer antecessor e sucessor nos filmes inspirados nas histórias de Ian Fleming.

Ontem, o mundo soube que Roger Moore morrera. Não fazia mais falta às constantes sequelas de James Bond pois o protagonista da saga melhor sucedida do cinema há muito que abandonara essa interpretação, sendo substituído por Thimoty Dalton, Pierce Brosnan e Daniel Craig. Que nunca fizeram sombra ao 007 mais charmoso, o mesmo acontecendo com o ator de um único filme, George Lazenby ou o grande rival, Sean Connery.

Se há questão que perseguiu sempre Roger Moore é a de se foi ou não o melhor agente secreto desta saga. Para muitos Connery entra na competição, mas para muitos outros foi Moore o melhor na composição da figura. É, diga-se, uma questão irresolúvel e que só o aumento de peso decidiu quando ainda estava no auge das suas interpretações. Um 007 gordinho não podia enfrentar tantos inimigos como lhe surgiam pela frente, nem seduzir meia dúzia de belas mulheres - sim, nesse tempo ainda não era politicamente incorreto - por cada novo filme de Bond.

Roger Moore contava 89 anos. Após o fim de 007 não abandonou o cinema, mesmo enveredando pela diplomacia enquanto embaixador da UNICEF, o que lhe valeu a nomeação de Sir pela Rainha de Inglaterra, tendo recebido uma estrela nos passeios de Hollywood e sido distinguido pela França com a insígnia da Artes e das Letras.

Glórias para um rosto que aparecia sempre sorridente e que confirmava que ao ser escolhido para substituir Connery em 007 Vive e Deixa Morrer (de 1973, com banda sonora de um outro Sir, Paul McCartney) só largaria o lugar após ter sido agente em seis outros filmes. Em que até foi astronauta, Moonraker (1979), ou pendurado no bondinho do Pão de Açúcar, onde era tão famoso que quando esteve no Rio de Janeiro para filmar a cidade parava para acompanhar as lutas entre o gigante que com uma dentadura de ouro cortava os cabos de aço. Uma artimanha que fizeram os cariocas sorrirem quando foram ver o filme... Mas aceitaram tudo o que passava no ecrã pois com Moore nada era impossível ao agente de Sua Majestade. A única luta que o filho de uma doméstica nascida na Índia e de um polícia bem britânico não venceu foi contra o cancro que lhe causou a morte, uma cena sempre fora dos argumentos que interpretara.

Roger Moore não estava destinado às artes em tempos de criança e frequentou, até desistir, a Universidade de Durham, após o que se seguiu a Real Academia de Arte Dramática. Nascia então o ator que aos 17 anos fizera uma ponta e César e Cleópatra (1945). A II guerra Mundial incorporou-o e atingiu a patente de capitão. Cinco anos depois assume definitivamente o desejo de ser ator e em 1955 assina um contrato de sete anos com a MGM, que não lhe correu tão bem como sonhava. Seguem-se anúncios e séries de televisão, onde se destaca no papel de Ivanhoe, entre outros. Mas são as seis épocas com 118 episódios de O Santo que lhe dão fama. Desde 2013 que estava proibido de beber martínis, após diagnóstico de diabetes. Uma pneumonia, um pacemaker e o colapso em pleno palco na Broadway mostraram que estava perto de ver a palavra Fim no filme da sua vida.

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