O robô Philae mandou os dados e foi dormir
Foi mesmo até ao último suspiro da sua bateria principal, mas a transmissão dos dados científicos que o robô Philae recolheu durante dois dias e meio na superfície do cometa Churyumov-Cerasimenko - os primeiros de sempre captados por uma sonda terrestre num destes astros - chegaram completos à Terra, comunicados através da sonda Rosetta, que permanece na órbita do cometa.
Sem luz solar suficiente para recarregar a bateria secundária através dos seus painéis solares, o Philae entrou em hibernação e despertará automaticamente mais tarde, possivelmente em Agosto de 2015, ou mesmo antes, quando o cometa estiver mais próximo do Sol e rodar a sua posição. Nessa altura os cientistas da missão esperam que haja mais horas de luz no local onde se encontra o módulo de aterragem da missão Rosetta. Se isso acontecer, o Philae poderá continuar a fazer as suas experiências sobre o solo do cometa.
Para favorecer essa possibilidade, os controladores da missão no ESOC, o centro de controlo da ESA, em Darmstadt, na Alemanha, ainda conseguiram enviar ordens para o Philae, para que efectuasse uma rotação de 35º na sua posição. A esperança é que em vez da hora e meia de luz que os painéis estavam a receber por dia (que no cometa dura 12 horas), esse período possa ser pelo menos um pouco mais prolongado.
"Foi um enorme sucesso, toda a equipa está encantada", afirmou Stephan Ulamec, o director de voo do Philae. "Apesar das três aterragens, todos os instrumentos científicos funcionaram, e a agora é tempo de vermos o que conseguimos [de dados científicos]", sublinhou.
A perfuração do solo e a recolha de amostras, que chegaram a estar em dúvida devido à posição em que o Philaea ficou quando aterrou pela última vez, foram, afinal, feitas sem problemas, o que significa que o robô conseguiu realizar as análises que vão mostrar quais são os componentes orgânicos no núcleo do Churyumov-Cerasimenko.
Essa é uma parte dos dados que veio no último pacote, antes de o robô ficar sem energia, e um dos mais aguardados. "Poderemos perceber se a matéria orgânica deste cometa é compatível com a que existe na Terra, o que tem a ver com a velha hipótese de que a vida foi semeada no planeta por astros destes", explica ao DN o astrofísico Pedro Lacerda, que dirige há um ano no Instituto Max Planck para a Investigação do Sistema Solar, em Göttingen, na Alemanha, um grupo de investigação que está a analisar os dados da missão Rosetta. Para o astrofísico português, o desfecho positivo desta primeira parte da missão é seguramente uma boa notícia.