"O retorno a Fahrenheit 451 é essencial"
Fahrenheit 451. É a temperatura a que os livros entram em combustão espontânea, o equivalente a 233 graus Celsius, que deu título ao livro de Ray Bradbury, que o vereador do PCP na Câmara de Lisboa, Carlos Moura, elege como a sugestão de verão.
"Não é por estar calor. Não é por ser verão. Não é por falar de chamas. Volto a Bradbury e a Fahrenheit 451. Volto pela simples razão que revisito de tempos a tempos os temas que me causam inquietação", diz ao DN, sobre o livro que haveria de dar um filme de François Truffaut, em 1966.
Relato de um futuro distópico em que os bombeiros queimam livros para silenciar ideias, numa sociedade em que o pensamento próprio é suprimido e a tecnologia é um instrumento de normalização das ideias, Fahrenheit 451 foi originalmente publicado em 1953, em pleno Macartismo. Mas Carlos Moura encontra-lhe muitos traços de atualidade, traços que passam pela caracterização das personagens, como Mildred - mulher de Montag [a personagem principal] - e a sua tentativa de suicídio que se contextualiza no vácuo da sua vida, ou na descrição de uma normalidade que se faz de impressões em que tudo parece normal, quando nada o é": "Numa sociedade que promove a facilidade da imagem, no que tem de simples mas também de estupidificante, que espelha e espalha a imagem de uma felicidade costurada à fugacidade de um qualquer prazer hedonista, o retorno à palavra escrita, a Bradbury, o retorno a Fahrenheit 451 é essencial".