"O regresso do Sporting dá mais notoriedade ao voleibol"
Em 1995, Mário Soares era o Presidente da República, Cavaco Silva estava prestes a deixar de ser primeiro-ministro e internet era uma palavra pouco usual. Nesse ano, o Sporting decidiu, por imperativo do projeto Roquette, extinguir modalidades de alta competição - resistiu o andebol por decisão dos sócios em referendo. O voleibol, que estava em alta com muitos troféus conquistados, terminou abruptamente em Alvalade.
Vinte e dois anos depois o Sporting decidiu fazer regressar a modalidade e para estreia no campeonato seria difícil pedir melhor; os leões defrontam esta tarde no recém-inaugurado Pavilhão João Rocha, pelas 17.00, o eterno rival Benfica, atual campeão em título. Um início de época mais aliciante seria difícil, principalmente entre duas equipas que serão candidatas ao título e que voltam a defrontar-se nas principais competições internas.
José Jardim, técnico do Benfica, em declarações ao DN valoriza o facto de voltar a ter o eterno rival como adversário. "Penso que o regresso do Sporting à modalidade, mais do que um ponto de viragem, traz maior notoriedade e mediatismo ao voleibol. É sem dúvida mais um adversário, que apostou e investiu bastante na sua equipa, na luta pelo título, num campeonato em que as equipas estão mais equilibradas e que tem vários candidatos ao título, além do Benfica e do Sporting", refere o treinador, acrescentando que haver "mais equipas competitivas nas provas nacionais tem o claro potencial positivo de fazer evoluir a modalidade em Portugal".
Curiosamente, entre os três grandes do nosso deporto o único que não está representado atualmente no voleibol é o FC Porto, dando-se a particularidade de ter mais títulos do que os dois rivais.
Mas, para José Jardim, não está para breve o voleibol juntar os três baluartes do desporto nacional. "Não creio que faça sentido abordar algo que não é real. Diria que todos os clubes que acreditem e queiram competir forte no voleibol são bem-vindos. Orgulho-me muito de representar um clube que há muitos anos investe de forma coerente, responsável e sustentável."
O último ano do Sporting no voleibol coincidiu com uma época de ausência do Benfica, mas na temporada anterior, ou seja, em 1993/1994, os leões derrotaram as águias nos três jogos em que se encontraram. Até por isso este é um jogo apetecido.
"Não faz sentido falar de favoritismo. Somos o campeão em título e temos noção das expectativas dos nossos adeptos. Nesta casa só pensamos "vitória" e é para isso que trabalhamos todos os dias. Acreditamos muito em nós, mas teremos de provar em campo o nosso valor", salienta José Jardim.
Saudosismo leonino
O DN tentou também falar diretamente com Hugo Silva, técnico do Sporting neste regresso, mas o clube de Alvalade Sporting remeteu-nos para declarações do treinador às plataformas leoninas. "É mais um jogo, temos de o encarar dessa maneira, independentemente de ser o campeão. Porque temos de encarar todos os jogos para vencer. Disse depois do Torneio das Vindimas que o Benfica ainda está longe do seu potencial, tem feito uma aposta ano após ano enorme e isso mostra o seu poderio. O voleibol é uma modalidade muito acarinhada pelo Benfica mas o mesmo acontece connosco. É curioso que sempre que saímos deste pavilhão e somos confrontados com público falam do voleibol com recordação e isso é bom sinal, é sinal de que os sportinguistas não se esqueceram desta modalidade", sublinhou o antigo selecionador nacional.
Curiosa é a maneira como Hugo Silva acalma as expectativas dando como cobertura os muitos anos em que o Sporting esteve fora da modalidade. "Noto os meus jogadores muito focados e esse foco dá mais confiança, mas atenção... o campeonato vai começar, são 22 anos de ausência e isso sente-se no corpo. A equipa tem muita vontade de dar bons sinais, de dar vitórias aos adeptos, sentem essa necessidade e de que o clube precisa de vitórias, porque o clube está habituado a vencer. Eles sabem o que têm de fazer", complementou.
Esta tarde começa, está bom de ver, uma nova era no voleibol português e que não se confinará a Sporting e Benfica. O Sporting de Espinho, vencedor da Supertaça, e Fonte Bastardo, campeão há duas épocas, que o digam.