O regresso de uma saga de monstros e mulheres de armas

Ridley Scott está de volta com uma das sagas mais apreciadas das últimas décadas, a que ele próprio deu arranque. Mas o seu novo "Alien: Covenant" não é uma sequela.
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Qual é a primeira imagem que vem à cabeça quando falamos de Alien? Uma mulher obstinada, quase sempre de metralhadora nos braços, contra um monstro de aparência viscosa e dentadura metálica. E não é uma imagem que remeta apenas para o mítico capítulo inaugural, O Oitavo Passageiro (1979), de Ridley Scott. Também os posteriores, assinados por James Cameron, David Fincher e Jean-Pierre Jeunet, tiram partido deste símbolo feminino do confronto.

Assim, no lugar de protagonista, que pertenceu inequivocamente a Sigourney Weaver, rosto e músculo de todos os filmes, surge agora, em Alien: Covenant, Katherine Waterston. Será de igual modo sobre ela que recaem as atenções? É certo que a tradição da mulher de armas mantém-se, mas esta não terá um papel tão expressivo nas novas peripécias alienígenas... Antes de mais, importa esclarecer a posição deste título (que estreia hoje entre nós) na série.

Os seguidores mais atentos saberão que Alien: Covenant não se trata de uma sequela do último filme da saga (Alien: O Regresso). Em vez disso, dá continuidade aos acontecimentos de Prometheus, a prequela lançada igualmente por Ridley Scott em 2012, estabelecendo uma ponte, ainda que indireta, com o primeiro filme, de 1979 (daí a apropriação do título original Alien). Este mais recente fascículo da história que, segundo o realizador americano, se estenderá por mais dois episódios, vai então encurtando a distância em relação aos eventos de O Oitavo Passageiro...

Recordemos que, no final de Prometheus, só restaram como sobreviventes a cientista Elizabeth Shaw (Noomi Rapace) e o androide David (Michael Fassbender). Ora, Alien: Covenant começa justamente por recuperar, de forma garrida, a figura desconcertante desse "artificial" Fassbender, conferindo através dele uma nota filosófica e um charme surpreendente ao thriller de ficção científica.

Na verdade, não falamos de um, mas sim de dois Fassbender no centro de tudo: Walter, um androide fiel à tripulação da nave Covenant, e o mencionado David (gémeo), que surge mais tarde, no planeta onde se manteve depois da destruição da nave Prometheus, 10 anos antes.

À semelhança de O Oitavo Passageiro, também aqui a ação é provocada pela receção de um sinal desconhecido, que conduz uma equipa de cientistas, pilotos e engenheiros a um planeta com aparência de ser o lugar ideal para começar uma nova vida. Mas, claro, o que os espera não é outra coisa senão a morte... Por essa altura, a heroína da tripulação, Daniels (Waterston), vai distinguir-se na resistência ao terror instalado pelas criaturas grotescas. Mas, no fim de contas, é sempre Fassbender quem rouba o espetáculo, concentrando em si a novidade acrescentada à fórmula.

Sim, a fórmula não é descurada. Ridley Scott teria sempre necessidade de a manter, enquanto base mitológica da saga, com todos os elementos que fazem parte do imaginário. Nesse sentido, Alien: Covenant não faz nada para se desviar dos valores fundamentais que sustentaram cada um dos filmes até este ponto, sublinhando só um pouco mais a carga emotiva (a tripulação é constituída por casais), como contrapeso da ação. Além disso, há uma sabedoria na gestão dos ritmos, e no labor visual do mundo apresentado, que é atributo especial da veterania. A chegar aos 80 anos, Scott regressa à boa aragem do início da carreira, marcada por esses célebres títulos que são Alien e Blade Runner, soberbos designs de produção, conseguindo imprimir elegância e personalidade à franchise ritualizada. Que se conserve assim.

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